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O Disco de Arnaldo Antunes

por Camila Eiroa

Cantor e compositor fala sobre álbum de inéditas e novas formas de divulgação na internet

Em uma tarde gelada em São Paulo, Arnaldo Antunes falou sobre seu Disco em uma coletiva de imprensa na Casa de Francisca. O novo CD veio depois de quatro anos do Iê Iê Iê, último de inéditas, e também do Ao Vivo Lá em Casa e do Acústico MTV, nos quais o cantor e compositor trabalhou músicas de toda a sua carreira. Gravado entre março e agosto, são 14 faixas, sendo que quatro delas foram divulgadas na internet antes mesmo do CD ser lançado.

A escolha por disponibilizar o áudio de Muito Muito PoucoDizemTarja Preta e Vá trabalhar veio para causar reflexão sobre o significado de um disco na era de música virtual. "A forma que eu estou lançando esse disco hoje é diferente. É uma adequação a um novo padrão que está pintando que é o das pessoas poderem consumir e ouvir música na internet de uma maneira avulsa.", diz. Para Arnaldo, isso pode ser bom e ruim ao mesmo tempo. Ele valoriza o processo ritualístico de ouvir um álbum por completo e poder observar o diálogo faixa-a-faixa, mas aceita que o formato shuffle vai conviver com todo mundo no decorrer do tempo.

Em seu 13º CD, Arnaldo também conta com uma vasta lista de parcerias que transita entre músicos conhecidos e novos artistas. São composições com João Donato, Caetano Veloso, Céu, Hyldon, Felipe Cordeiro, Luê, sua mulher Márcia Xavier e também com Marisa Monte, Dadi Carvalho e Nando Reis, parceiros que não vêm de hoje. Os músicos que o acompanham desde trabalhos anteriores como Curumin, Edgard Scandurra, Chico Salem, Betão Aguiar e Marcelo Jeneci, se dividem em cada faixa com Daniel Jobim, Pupillo, Guizado, Fernando Catatau, Davi Moraes, Pedro Sá, Estevan Sinkovitz, Anelis Assumpção, Márcia Castro e muitos outros nomes que fizeram desse trabalho muito plural.

"É um disco bem diversificado. Acho que é um contraponto ao Iê Iê Iê, que é mais coeso como sonoridade, todo gravado com a mesma banda em cima de um gênero musical", compara o cantor, que também fez uma versão de "Mamma", canção de Gilberto Gil, o que considera como uma ousadia.

Apesar da ideia de entrar em estúdio só no ano que vem e continuar com a turnê do Acústico, todas as composições e ideias que surgiram durante as férias do começo do ano fizeram com que Arnaldo resolvesse gravar mesmo durante os shows. Disco tem previsão para ser lançado no começo de outubro, com patrocínio do programa Natura Musical. 

O disco começa a ser divulgado em turnê dia 13 de outubro na Concha Acústica de Salvador. Em São Paulo, Arnaldo faz show do Sesc Belenzinho em novembro. Ouça e veja a agenda no site: www.arnaldoantunes.com.br

 

"Não acho que dê pra generalizar a internet em boa ou má, porque isso de certa forma menosprezaria a capacidade pessoal de cada um em se relacionar com ela"

 

Suas parcerias vão desde Caetano Veloso até a Céu. Elas passam por várias gerações da música. Você acha importante ter esse contato com novos artistas? Sem dúvida. Acho que existe essa ideia de que uma geração vai substituir a outra, e o fato de eu conviver e compor com pessoas de gerações anteriores a minha e também mais novos desfaz um pouco essa imagem. O Grêmio Recreativo, da MTV, é um programa no qual eu tentava fazer justamente esse diálogo. Quem produz um trabalho novo continua sendo novidade, por mais que tenha uma carreira antiga. Eu acho que tem aí uma geração de músicos mais novos e de compositores interessantíssima.

Abrir o trabalho antes de lançá-lo para as pessoas escutarem gerou tanto reações positivas quanto negativas. Você levou em consideração algum comentário para a escolha das faixas do Disco? Não era algo que estivesse orientando a feitura do disco, porque já era algo que estava selecionado. Eu gostei dessa troca de ir mostrando aos poucos, ver a expectativas e comentários que isso gera - sejam críticas ou elogios. Gostei também de ter um retorno do público enquanto gravava o disco, mas isso de mudar os rumos não aconteceu.

Ainda sobre a internet, em "Sou Volúvel" você se pergunta “De onde a ideia vai sair?”. Você acha que a facilidade em divulgar e conhecer novos trabalhos na internet pode limitar a criação sonora? Limitar? Não. Acho que a internet é um meio, você usa como quiser. Tenho um pouco de medo da velocidade, das pessoas ficarem muito na superfície das informações e não se aprofundarem. Não pararem para ler algo mais extenso, para ouvir o disco, refletir e contemplar. Ao mesmo tempo, acho que tem seu lado positivo. Primeiro que é um sonho que eu tinha na minha infância, de entrar em uma livraria e ver todos aqueles livros que eu queria comprar e não podia. Ou uma loja de discos. Hoje em dia você tem acesso a todo tipo de informação, isso é uma liberdade incrível. É um instrumento que cada pessoa vai se relacionar de uma forma pessoal, acho que depende muito de cada um. Não acho que dê pra generalizar a internet em boa ou má, porque isso de certa forma menosprezaria a capacidade pessoal de cada um em se relacionar com ela.

Arnaldo Antunes e Titãs

"Eu sai dos Titãs pra poder mudar outras faces da minha produção que não cabia naquele conceito de oito pessoas. Nunca teve uma discordância do que os Titãs estavam fazendo, se eu quisesse continuar fazendo aquilo eu continuaria numa boa. A gente inclusive continua parceiro. Mas tinha esse desejo, de não só mostrar composições que não cabiam ali no Titãs por uma questão consensual, mas também mostrar outras formas de interpretar. Eu me lembro que eu cantava todas as músicas em tons mais altos que a minha região natural de voz pra poder brigar com o peso da banda, com exceção de "O Pulso". É um tipo de interpretação que eu ainda tenho em algumas canções, mas essa possibilidade de explorar tons mais graves pintou porque eu optei pela carreira solo. E também outras formações instrumentais, poder exercer essa liberdade."

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