Porque dessa vida de tantos sacrifícios e tão poucas alegrias? Acordar às 6:00; pegar o ônibus ou metrô às 7:00; bater o ponto às 8:00 ou 9:00; trabalhar até às 12:00; voltar do almoço às 13:00; sair do trabalho às 18:00; chegar em casa 20:00 horas. A sequência da rotina é tomar banho, jantar, assistir a novela e dormir. Sábado: dormir até meio dia (que delícia!); as mulheres fazer cabelo e unha; Domingo acordar tarde e Shopping Center. Tem quem ache isso o máximo; há quem lute, use os outros com escada, seja “amigo” do chefe e cometa imoralidades para chegar ou manter esse “status”. Para alguns só o fato de estar trabalhando é quase tudo na vida (o desemprego é cruel...). Outros ainda só por saírem de casa; existem até aqueles que nem casa tem... E, como não poderia deixar de ser, há aqueles que acham isso tudo um absurdo, não se conformam e questionam.
Camus afirmava que quando começamos a questionar a vida, inauguramos o movimento de nossa consciência. De repente é como se estivéssemos dormindo esse tempo todo e a existência fosse se automatizando, por falta de uso consciente. O choque do despertar é, no mínimo, eletrizante. Ou conseguimos restabelecer o sentido da vida, ou atingimos a consciência do absurdo que é tudo isso.
Claro, causa enorme cansaço viver o mesmo sempre. É então que surge o stress e o esgotamento que paralisa. Em nós existe a ânsia de saber, de entender e de ter as coisas claras. E a vida se fecha “em copas”, silencia e nos deixam à mercê das suposições de idiotas que, como nós, tateam no escuro. A sociedade moderna separa o homem de seu sentido de viver para transformá-lo em consumidor e produtor. O cansaço de tantos sacrifícios e o desencanto com tão poucas alegrias são pontes que se nos movem para a busca de uma maior satisfação em viver. É dialética: de dentro da coleção de desumanidades com que o homem é pressionado, surge a sua consciência dos fatos que o oprimem e a consequente luta para superá-los.
No fundo, desejamos desesperadamente por um amanhã como se lá todos nossos sacrifícios fossem recompensados e só restasse a alegria de viver. Parece muito justo. É como se o amanhã fosse tudo e nele colocássemos todas nossas fichas. Mas que pena, só existe hoje... Decepção: o amanhã é uma incógnita.
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Luiz Mendes
14/08/2014.