Nos tow ins da vida

por Diogo Rodriguez

Trekinho e Formiga trocam perguntas sobre fama, medo, morte e as maiores ondas do mundo

Um representa a velha guarda do surf e dos esportes radicais. O outro, apesar de não se tratar mais de um "júnior" é consideravelmente mais novo. Luis Roberto Formiga, 45, e Marcelo Trekinho, 29, competem numa modalidade na qual a vantagem da idade fica no lado mais ancião da balança, diferentemente do que acontece em outros esportes. O tow in tem mostrado que a sabedoria é o que importa na hora de encarar ondas grandes, apesar de os mais jovens supostamente terem uma melhor condição física.

Resolvemos montar um desafio diferente para os dois domadores de ondas: Trekinho entrevistou Formiga; Formiga entrevistou Trekinho. Morte, fama, treinamento e o futuro do tow-in foram alguns dos assuntos que os jornalistas-surfistas trouxeram à tona nessa entrevista para a Trip.

 

 

Trekinho pergunta, Formiga responde

Você acha que o tow in deu uma revigorada na galera mais velha que ainda é fissurada?
Com certeza, tem muita gente que evoluiu depois de mais velho, como muitas pessoas principalmente em Maresias. É importante que mais gente pegue boas ondas, não só os garotos ou os profissionais, assim mais pessoas podem saber que fazem alguma coisa muito legal na vida.

Para onde você acha que o tow in vai evoluir?
Acho que surfistas mais novos vão trabalhar para um estilo mais acrobático. Você, por exemplo, já é um dos que treina para isso. Essas manobras de flips e até de swichstance vão ser obrigatórias para vencer campeonatos, principalmente em ondas pequenas.
Acho que vai ter uma prancha parecida com snowboard e aí vai dar pra usar mais as bordas com quilhas pequenas, possibilitando surfar também de base trocada. Para isso o fundo da prancha vai ter que mudar bastante.

Qual tipo de treino pra não ficar quebrado depois de uma sessão de tow in?
Academia, suplementos, kite nas ondas e standup paddle surf e muito controle de respiração. Com esses pilares de força e sustentação eu fico horas no mar. Eu me sinto capaz de surfar qualquer onda no mundo. Quanto maior, melhor, quanto mais tubular e longa a onda, mais eu sonho com ela.

Luis Roberto Formiga é paulistano, apresentador de TV, dentista e já experimentou diversas outras modalidades de esportes radicais (paraquedismo, voo livre, skate vertical) além do tow in.

 

 

Formiga pergunta, Trekinho responde

Trekinho, como você vê os perigos do tow in em ondas gigantes?
Dependemos 100% do jet ski e, nesse caso, se acontece de quebrar a máquina estamos à deriva em ondas enormes com correntezas e geralmente longe da praia. Isso pode trazer sérios problemas.

Você está a fim de encarar as maiores ondas do mundo?
Não sou big rider, me sinto à vontade em ondas de até 8, 10 pés. Mais do que isso começo a ficar assustado. Ainda não estou preparado pra encarar as maiores ondas.

Nesse tipo de onda temos que estar preparados para tudo, você tem medo de morrer praticando o esporte mais animal quando falamos em forças da natureza?
Eu tenho medo. Em certas situações de ondas grandes fico mais cauteloso e não me coloco onde sei que posso me dar mal. Escolho bem as ondas.

Qual é o seu objetivo: vencer os campeonatos que vão começar a aparecer e ganhar uma boa grana ou surfar as mais perigosas ondas do mundo pelo prazer de superar desafios pessoais?
Gosto do ambiente do campeonato e de ter boas performances, isso me faz evoluir muito. Conseguir colocar suas habilidades na hora da bateria e mostrar isso para o público me anima muito. Os prêmios vêm depois da performance, grana, capas de revistas, etc. O que importa mesmo é surfar bem, pegar um tubão. Isso vem primeiro. Como desafio pessoal penso em surfar umas ondas com bancadas rasas, tipo a Lage de Ipanema e outras no litoral carioca.

O que é mais importante para você, aparecer na capa de revista especializada ou surfar a maior onda do ano no anonimato?
Acho que ficaria com a maior onda, mas queria que pelo menos meus amigos vissem.

Marcelo Ribeiro Pessoa, o Trekinho, pega onda desde 1991 e nasceu no Rio de Janeiro. Suas primeiras manobras foram no skate e ele já participou de diversos campeonatos nacionais e internacionais.

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