por Luiz Alberto Mendes

NORMOPATAS

        

                   O que tenho lido dos pensadores contemporâneos mais conceituados sobre as perspectivas do homem contemporâneo, tem me deixado preocupado. A crítica é violenta; chega a doer. Mas foram suas esperanças que me deixaram mais perplexo.

                     O sociólogo Max Weber e filósofos como Walter Benjamim, Erich Fromm, Adorno, Horkheimer e particularmente Herbert Marcuse (ideólogo da geração dos anos 60), são unânimes no pessimismo quanto ao homem contemporâneo e seu futuro.

                     Nos falam de uma ordem econômica inexorável. Assim capitalista, legalista, burocrática e super poderosa que determina a vida das pessoas com força irresistível. Weber diz que estão "determinando o destino do homem até que a ultima tonelada de carvão fóssil seja consumida".

                     Nos mostram pessoas sem alma; "especialistas sem espírito; sensualistas sem coração". Nulidades que julgam haver atingido nível de desenvolvimento jamais sonhado pela espécie humana. Esses pensadores dizem, categoricamente, que o homem, como sujeito (ser vivente capaz de resposta, julgamento e ação sobre o mundo), desapareceu, ironicamente "num cárcere de ferro".

                     Atacam o que chamam de pseudodemocracia, cognominam o povo de "homens-massa" e acham absurdo serem governados pela massa majoritária. Isso os revolta.

                     Marcuse, membro do chamado Grupo de Frankfurt, é mais radical ainda. Deixa claro que Marx e Freud se tornaram obsoletos. Acabou a lutas de classes e os conflitos e contradições psicológicos foram abolidos pelo Estado de administração total. Os “homens massa”, segundo ele, não têem ego e nem id. Suas almas carecem de tensão interior, assim como de dinamismo. Suas idéias e até seus dramas e tragédias "não são deles mesmos". Suas vidas interiores são administradas (vide novelas, programas jornalísticos e policiais) para reproduzirem desejos, necessidades e ansiedades que os sistemas podem satisfazer. As técnicas de publicidade subliminar são exemplo do que afirmam.

                     Marcuse diz que "o povo se auto-realiza em seu conforto: encontra sua alma em seus automóveis, seus aparelhos de som, suas casa, suas cozinhas super pesquisadas". Eles consideram que a modernidade é constituída pôr máquinas, das quais o homem moderno não passa de uma reprodução mecânica. O mais difícil de engolir é que eles julgam que nenhuma mudança é possível. Porque, esse povo que se pretende mudar, nem vivo esta para ser mudado.

                     A única esperança que eles enxergam é uma pesquisa ao que o sistema chama de proscritos, aqueles "fora" da sociedade contemporânea. Os perseguidos; refugiados; inempregáveis; marginais; prostitutas; grupos que vivem isolados em guetos e prisões. Eles os consideram não tocados pelo "beijo da modernidade", porque não se ajustaram como peças na engrenagem social.

                     Expressam suas ultimas esperanças na rebelião do ser humano contra a desumanizarão que lhe é imposta. Percebem esperança nas neuroses que aparecem nos habitantes das grandes cidades. Nas toxicomanias; doenças mentais; sociopatias e criminalidades diversas. Vêem nesses sintomas demonstração de que o homem ainda luta contra sua desumanização. Consideram que os tidos como "normais", "sãos", assim o são porque a voz do ser humano neles morreu.

                     Não é muito louco o que eles dizem? Se fosse dito pôr qualquer outro grupo de pessoas, sequer receberia atenção. Mas afirmado, assim tão categoricamente, pôr tais pensadores, tido e havidos como o supra sumo da inteligência da segunda metade do século passado, é para se pensar, ou não?

15/07/2009

Luiz Mendes    

 

 

fechar