A mídia está com síndrome do pânico. Fuja
Medo gera medo. Na era da mídia de massas, não há nada de espontâneo nessa geração. Tem sempre alguém ganhando com a produção de pânico em escala coletiva. E é justamente isso o que dá mais medo hoje em dia. Especuladores financeiros, jornalistas espetaculosos, líderes do fanatismo religioso, políticos neo-conservadores, tem gente demais lucrando com o medo.
Quando se fala em medo global, é difícil que não venha à mente a figura de George Bush Junior, que apesar do "junior" é homem mais poderoso do planeta e apesar do "poderoso" foi o primeiro presidente americano eleito com a minoria dos votos. E todo o mundo sabe o resto da história.
O Poderoso Junior soube aproveitar a imbecilidade fundamentalista de meia dúzia de pobres diabos islâmicos, soube mitificar e criar um inimigo "temível", para se tornar, segundo uma pesquisa da CNN, o homem mais admirado dos Estados Unidos. É uma trajetória que nos leva a uma conclusão inversa à daquele verso de Luis de Camões ou Renato Russo, conforme o ouvinte: sem o medo, o Poderoso Junior nada seria.
A indústria do pânico
Em que pese termos uma figura de cowboy tão claudicante cavalgando no topo do mundo, não dá para dizer que o medo, o medo embalado em seu próprio vácuo e entregue em domicílio, constitua alguma novidade histórica para uma humanidade que já viveu séculos de barbárie eclesiástica ou tribal. A novidade é outra. Se depois de 11/9 o medo voltou à moda com tudo, foi sobretudo amparado pelo upgrade tecnológico na estrutura de distribuição midiática.
Nas últimas décadas, o medo e outros vírus de comportamento malignos ou benignos ganharam canais eletrônicos instantâneos. Então, não bastasse a overdose de violência no varejo das telas locais, não passa uma semana sem que o Eixo do Bem anuncie a iminência de um novo ataque terrorista global. E nada acontece. Nada acontece, é certo, a não ser que a vontade de aterrorizar já esteja contida no próprio anúncio, supostamente antiterrorista.
Talvez a definição mais neutra sobre terrorismo seja de que ele é o ato de aterrorizar populações para obter vantagens políticas. Só isso. Se terrorismo é essa vontade sempre simbólica, a missão está sendo cumprida à risca. As populações estão morrendo de medo, mesmo que nada de espetacularmente grave aconteça de fato.
Se todo atentado terrorista é um gesto que visa não apenas à violência física, mas sobretudo à violência contida na própria notícia da violência, então tem muita gente de terno e barba aparada provando que dá pra fazer terrorismo mundial sem estourar uma biribinha.
Bushiitas
Não acho que quem assiste pasmo ao blockbuster simplista em que o mundo se transformou precise se alinhar, automático, às igualmente simplistas procissões antiamericanistas. Em que pesem todas as barbaridades cometidas pela Roma WASP na segunda metade do século XX, não custa lembrar de vez em quando que a gente teve a oportunidade de viver algumas das décadas mais interessantes da história da humanidade e que isso aconteceu sob a liderança inequívoca dos Estados Unidos. Não da Rússia, nem da Alemanha, nem da China, nem da Arábia Saudita.
Eu adoraria que quem lembrasse mais disso fossem os próprios Bushiitas, mas eles estão mais empenhados em tornar reais os piores pesadelos totalitários que os próprios EUA, nos últimos cinqüenta anos, tanto ajudaram a evitar. O último sinal claro desse empenho é um programa "antiterrorista" lançado há dois meses pelo Pentágono, que atende por um nome que deixa a obra do George Orwell parecendo um livro do Paulo Coelho.
Consciência Total da Informação é o título desse sistema que pretende unificar o acesso a câmeras de trânsito, transferências bancárias, chamadas telefônicas, e-mails, reservas de passagem, enfim, criar um banco informático que cruze todos os dados de vigilância civil eletrônica para procurar padrões suspeitos de comportamento nas atitudes de qualquer habitante de qualquer país.
Se duvidar da idoneidade a priori e fulminar a privacidade eletrônica de todos os cidadãos do planeta não é terrorismo, o que é terrorismo?