Então é Natal...
Não dá para levar calendário a sério. O ano 2011 no calendário cristão é 1389 para os mulçumanos; 5124 para os maias e 5772 para os judeus. O dia primeiro do ano foi decidido por capricho de senadores romanos. Foi um Papa quem resolveu que o nascimento de Jesus seria comemorado em 25 de dezembro.
25 de dezembro de 2011, 7 horas da manhã. Passagem de Natal na periferia é apenas uma balada mais agitada. Quase todo fim de semana é assim. Os moleques estouraram bombas e os motoqueiros rugiram seus motores envenenados. Carros equipados de som altíssimo passam estrondando funks de letras chulo-sexistas. Gargalhadas bêbadas, gritinhos histéricos e falatório alto a noite toda.
Levantei e sai com Chicão (meu cão) para passeá-lo. À noite o coitado tremia e corria pra lá e pra cá com medo das bombas. Na esquina de casa, mais de centena de jovens. Amuados, alguns ainda bêbados/drogados. As meninas escorando nos meninos e estes esparramados na parede do muro de tão cansados. Passamos no meio deles e pipocou “Feliz Natal” de todos os lados. Eram criancinhas empinando pipa na rua outro dia... Agora furando nuvens de tão esticados ou estourando nas costuras; “periguetes” do verão.
Não estavam felizes. Rostos angustiados e principalmente cansados. Sorriso forçado, escondido lá no fundo dos olhos vermelhos. Penteados desfeitos e roupas amarfanhadas em corpos desidratados. A carruagem havia virado abóbora e ali era o borralho. Quase zumbis, vagando entre os grupos e passando. Ninguém queria voltara para casa. Nada os atraia por lá. Nem a cama, por mais esgotados estivessem.
Preferiam estar entre eles. Não importava se angústia e às vezes desespero. Erravam, acertavam e dividiam entre si o que entendiam e o não entendiam. Seriam melhores adultos por terem mais liberdade que as gerações anteriores? Serão os futuros pais e mães das crianças da favela que esta virando bairro. Operários, traficantes, mão de obra não qualificada, salários baixos e o estudo que fará falta então.
Não lhes foi ensinado a gostar de livros. Lêem muito mal e escrevem pior ainda. Diria que é uma pena, caso tal fato não me revoltasse. É a escola de péssima qualidade que o governo oferece aos nossos filhos. Mal aprendem a ler.
Quando eu era jovem diziam que o dicionário era o pai dos burros. Costumo dizer, em minhas Oficinas de Leitura, que os livros são os únicos pais que podem ter aqueles que não nasceram afortunados ou geniais. Bem, mas já estão sendo adestrados para usar a internet como ferramenta de namoro e diversão, o que me permite alguma esperança.
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Luiz Mendes
25/12/2011.