Mundo flutuante; Vida líquida

por Luiz Alberto Mendes

Busca sem fim

 

Porque é tão difícil a convivência com as pessoas, e em particular, com as pessoas que mais querermos bem? Porque as relações humanas são tão difíceis a nós seres humanos, todos iguais, sendo capazes dos mesmos sentimentos e possuindo a mesma capacidade mental? Talvez até seja por isso mesmo. Há uma média em que todos nós estamos enquadrados. Embora não sejamos exatamente iguais, somos semelhantes e não vamos muito além do que vai a média dos homens.

Tudo o que podemos ter, é efêmero porque esta sujeito a ser ou não ser. Tudo acaba; nada permanece para sempre. Embora esse "acaba" seja também relativo; porque acaba tal como é para ser transformado por algo além ou aquém. Tudo o que é agora não será o que já foi um dia, como diria Lulu Santos. Tudo tem vida além de nós, não somos o centro do mundo; tudo o que há no mundo é tão importante quanto nós. Vivemos em um mundo flutuante e tudo em volta parece se liquefazer. Ao contrário do que disse o poeta; penso que todos somos ilhas. Mas com possíveis ligações com as outras ilhas. As pontes são responsabilidade de cada um construir.

É um absurdo: empenhamos nossas vidas em lutar por coisas, poderes e situações que têm duração relativa. Nem nossas conquistas interiores (o que há de melhor) perduram; tudo tende a ser ultrapassado. Os patamares a serem atingidos hoje não serão os mesmos de amanhã. Dizer que investimos muito mais de nossa vida em passado e futuro do que no presente, é chover no molhado. Sabemos disso e não conseguimos mudar muita coisa. Lutar por um futuro melhor, mantendo um presente igualmente bom, é bastante difícil, senão, às vezes, impossível. Encenamos o hoje para viver a ilusão de um amanhã que nem sabemos se acontecerá de fato. Mas caso não planejarmos o amanhã, é uma lição aprendida por toda humanidade, o futuro não reproduzirá nossas conquistas atuais. E, se ficarmos planejando o que será, não teremos tempo para nos dedicar ao que esta acontecendo e perderemos boa parte do presente. E como pensar um futuro maior tendo um presente reduzido?

Equilíbrio é a única solução que me parece viável. Uma porcentagem de futuro no quantum do pensamento presente. Pensar futuro de acordo com o presente. Talvez essa seja a meta. Mas, a maioria de nós não é equilibrada. A infantilidade ou a explosão das emoções, o egocentrismo, a mesquinharia e a ilusão do poder, se contrapõem às aspirações humanas de amor, liberdade e felicidade. Dizem que é preciso mais amor, mas a que tipo de amor  se referem? Na verdade precisamos de bem menos do que expressamos  carecer. E amor, como tudo o mais neste mundo, é fruto de conquista, de empenho e abnegação. Somos nós que construímos amor em nós e nos outros. Amor é uma das maiores objetividades humanas, como liberdade e felicidade. Precisamos aprender que, como as demais aspirações,  existem momentos de amor e não amor contínuo ou para sempre. Não amamos o tempo todo. Odiamos às vezes, e não tão "às vezes" assim. O mundo esta flutuante, a vida líquida e, como o rio, nós somos caminhos que caminham. Nossos caminhos estão embaixo de nossos pés, enquanto eles vão bater no chão. Escolhemos e conhecemos caminhos andando, por isso pensar futuro não é tão importante. Caminhos são fatos a nos surpreender, feitos da poeira das estradas percorridas que impregnam nossos pulmões.

Creio que a relação com os outros é difícil porque a relação conosco mesmo ainda não nos satisfaz. Mas um dia satisfará? Penso que não porque, ao momento que satisfizer, vamos nos acomodar e gozar o que conquistamos, esquecendo que o mundo esta flutuante e a vida líquida. Na verdade nos concebo como eternos navegantes. Vikings; Gregos; Filisteus; Genoveses; portugueses; espanhóis; ingleses; e depois, humanos a devassar estrelas. Procurando o que nem sabemos, mas sempre a postos, na busca sem fim.

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Luiz Mendes

13/07/2014.

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