Mentiras Tropicais

por Henrique Goldman
Trip #119

Coisas desconexas sobre o Brasil, colhidas no mundo recentemente

Peguei um táxi em Roma e comecei a levar um papo com o motorista. Contei para o sujeito que estava trabalhando num filme sobre travestis brasileiros na Itália. O motorista me contou que era casado e que tinha filhos. Mesmo assim ele gostava de dar de vez em quando uma bimbada com traveco brasileiro. Ele frisou que tinha que ser brasileiro e eu perguntei por quê. Ele respondeu: "Quando eu como um cu brasileiro eu me sinto como se estivesse fodendo a floresta amazônica".

Pentelhos brasileiros

Vi o anúncio promocional de um instituto de beleza numa revista feminina. O anúncio apresentava uma tabela de preços para diferentes tipos de depilação. Um dos itens era o chamado "Brazilian". Descobri que as inglesas chamam assim a depilação que elimina os pentelhos laterais da xoxota, consentindo assim o uso de tanga.

Learning portuguese

Botei a Debi, minha mulher, que é inglesa, para aprender português. Na primeira aula, a professora perguntou a cada aluno por que português. Uma das alunas respondeu: "Porque adoro dançar salsa".

Piada de portuga

Passei o ano-novo na Casa do Alentejo, um clube da comunidade alentejana, em Lisboa. Descobri algo surpreendente: as mesmas piadas que nós contamos para gozar da burrice portuguesa, os portugueses usam pra gozar da burrice alentejana.

Os alentejanos são os portugueses dos portugueses, raízes quadradas da burrice. Fiquei curioso por saber quem eram os alentejanos dos alentejanos. Não obtive resposta.

Réveillon no Alentejo

Nós brasileiros nos divertimos renegando e gozando da cultura que nos originou enquanto nação e que nos deu a própria língua. Aos nossos ouvidos tudo o que é contemporâneo soa como um anacronismo ridículo e torpe no português de Portugal.

Tem coisa mais triste e incongruente do que, por exemplo, um rapper, um surfista português? Portugal é como um pai inconveniente que fica na sala de pijama limpando o nariz quando trazemos a namorada em casa pela primeira vez.

A festa de réveillon na Casa do Alentejo muito me lembrou aquele programa O Baile da Saudade, que passava aos domingos de manhã na TV Gazeta na década de 70.

Nesse programa se apresentava aquele cantor português Roberto Leal (meu Deus, por onde será que ele anda? Ele era estranhamente louro como o Taffarel, mas tinha cabelo comprido). Bem, ao espocar da meia-noite, o conjunto que animava a festa entoou de cara a marchinha carnavalesca "Cidade Maravilhosa".

Eles cantam o Brasil como se cantassem uma extensão de Portugal, um pedaço arrancado de si, distante e rebelde, mas ainda assim muito querido.

Eu sou judeu. De pai e mãe. Circuncisado e tudo. Mas não sou pão-duro. Portanto, sou obrigado a aceitar a existência de portugueses não burros, japoneses com pau grande e pretos que não sujam nem na entrada e nem na saída.

Na verdade, nunca conheci nenhum português particularmente burro ou inteligente. E não vou ficar lembrando de Camões e Fernando Pessoa só pra provar que não sou racista. Acho muito bom poder rir de mim mesmo e dos outros.

Só para terminar, desculpem-me mas eu não resisto: qual é a diferença entre um judeu e uma pizza? Resposta: pizza não grita quando vai para o forno. Se os racistas tivessem mais senso de humor o mundo seria menos uma merda.

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