Medo e Segurança

por Luiz Alberto Mendes

Medo e Segurança

 

A obsessão atual por segurança é insaciável. Não há como pará-la. E percebemos que apenas torna o ambiente que vivemos pior, sem o tornar mais seguro. Aprofunda a sensação de perigo porque passamos a enxergar riscos inexistentes ou criados. Solapa a confiança em nós mesmo, no outro e na vida. O déficit de confiança produz queda de comunicação e desqualifica o diálogo; e essa talvez seja a única alternativa para tornar a coexistência segura e agradável.

A vida social esta composta de tal modo que tem como objetivo limitar liberdades. Com isso pretende eliminar os danos possíveis que a natureza, nossas fraqueza físicas e o perigo que os outros podem consistir para nós. O medo hoje é uma mercadoria de negociação política. É a linguagem da incerteza e da insegurança com que negociam nossos "políticos" em nome das forças econômicas do país. Esse medo provem do fato de não sabermos o que pode acontecer; do futuro ser incerto e do que conhecemos de nós. Sabemos que somos vulneráveis, frágeis e não sabermos se seremos capazes de enfrentar o que pode acontecer, dadas as inúmeras possibilidades.

Para nos libertarmos de nossos medos, a vida social impõe leis, regras e éticas que cerceiam, proíbem e prendem o homem a limites antinaturais. Para que possa alcançar a felicidade é preciso que o homem se rebele contra essas restrições. A sociedade busca, quase que inutilmente, vencer as causas do sofrimento humano. Mas nossos instintos individuais nos levam a lutar, entrar em conflito com o que o coletivo dos homens elege para nos proteger. No coletivo, lutamos para banir todos os perigos para vivermos sem dor. No individual precisamos encarar os riscos para nos desenvolvemos e crescermos.

Caso as buscas individuais pudessem entrar em acordo com os limites impostos socialmente, seria uma maravilha. Mas a liberdade de viver de acordo com nossos impulsos, inclinações e anseios, que tornaria nossa vida satisfatória e prazerosa, bate de frente com a idéia de segurança que se vive socialmente. Os psicólogos afirmam, desde Freud até Lacan, que as aflições, depressões e demais doenças psicológicas, aparecem quando se cede muito à segurança, reprimindo a liberdade.

Liberdade e segurança parecem ser excludentes. Mas liberdade sem segurança nos inclina ao perigo, ao caos; segurança sem liberdade nos encaminha a imobilidade e a escravidão, o que fazer? A velha idéia de moderação; um pouco de liberdade e um pouco de segurança em busca do equilíbrio, será que funciona aqui? Talvez...

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Luiz Mendes

15/04/2015.

 

 

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