Me dá um dinheiro aí

por Alê Youssef
Trip #198

Ale Youssef: ˜Está na hora de transformar nossa vocação para fazer festa em fonte de renda”

O Carnaval carioca bateu todos os recordes este ano. Está na hora de transformar nossa vocação para fazer festa em fonte de renda em todo país

O Carnaval carioca bateu todos os recordes em 2011. Além de o Cordão da Bola Preta – bloco de rua fundado em 1918 – ter ultrapassado em número de pessoas o grandioso Galo da Madrugada de Recife, tornando-se o maior bloco carnavalesco do mundo, o lucro da Cidade Maravilhosa com o Carnaval também superou todas as marcas. Segundo números da prefeitura do Rio, a cidade recebeu 1 milhão de pessoas, que geraram R$ 1,2 bilhão gasto em hotéis, restaurantes, passeios etc. Em relação a 2010, o número de turistas cresceu 37% e a receita teve alta de 40%.

Ao contrário do que pode aparentar à primeira vista, esse êxito econômico tem muito pouco a ver com a Marquês de Sapucaí e com o desfile e o título do Rei Roberto Carlos na Beija-Flor. Os números sensacionais devem-se ao Carnaval de rua, que ganha força a cada ano e já é a grande atração da cidade nos dias de folia. São mais de 500 blocos, que atraíram cerca de 4,9 milhões de foliões. Um detalhe importante sobre essa bombação é que 40% dos turistas eram estrangeiros – o dobro do percentual de 2010.

Os números mostram que uma das grandes decisões políticas da cidade do Rio de Janeiro dos últimos anos foi apoiar e investir no Carnaval de rua, processo iniciado com força no começo da década. As complicações naturais que os blocos causariam, como fechamento do trânsito em determinadas vias, barulho eventual que incomodaria moradores durante certo tempo, logística complicada de segurança pública e até problemas sanitários com a falta de banheiros públicos para a multidão carnavalesca, não foram motivo para melar a festa.

VOCAÇÃO DE FESTA


No Rio, os desafios foram encarados e os benefícios não tardaram a aparecer. Isso é o que acontece quando o investimento público atende a uma vocação inequívoca da cidade. Trata-se de um dos melhores exemplos do que podemos gerar para todo o nosso país, investindo na economia criativa.

Tendo o Carnaval como principal manifestação de nossa cultura popular para impulsionar nossa especialidade em fazer festa, é possível catapultar outras festas populares, os festivais de música que pipocam no Brasil, as noites das grandes cidades e tantas outras experiências culturais relevantes, que com um simples apoio e olhar estratégico do poder público também bateriam recordes e atrairiam gente do mundo inteiro. Está na hora de a economia da festa ser estratégica no nosso PIB.

*Alê Youssef, 36, é sócio do Studio Sp e um dos fundadores do site Overmundo. Foi coordenador de Juventude da Prefeitura de SP (2001-04). Seu e-mail é ayoussef@trip.com.br. Seu twitter é @aleyoussef

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