Libertem os vídeos

por Ronaldo Lemos
Trip #180

Já está na hora de revolucionar o audiovisual na rede de descentralizar os seus formatos

 

 

A chegada do vídeo à internet talvez tenha sido o evento de “mídia” mais importante desta década. As consequências políticas do uso do YouTube na campanha presidencial dos EUA são apenas um pequeno indício de como o vídeo na rede afetou profundamente o mercado da informação. No entanto, daqui a dez anos, quando olharmos para trás, essa primeira geração de sites de vídeo vai nos parecer tão ingênua e curiosa como uma geladeira gordinha dos anos 50.

A razão para isso é que o formato para vídeos na web hoje é predominantemente fechado. O vídeo fica aprisionado dentro de uma janela, que funciona como uma metáfora para um aparelho de televisão. Posso dar play ou pause no vídeo, posso aumentar e diminuir o seu tamanho, posso deixar comentários, mas não consigo ir muito além disso. O vídeo é tratado como um produto fechado e não como informação, que poderia ser livremente conectada e manipulada. Em outras palavras, continua sendo uma metáfora da ideia de broadcast ou “radiodifusão”.

BRINCADEIRA DE CRIANÇA

Pois bem, tudo isso começa a mudar. Participei há pouco tempo em Nova York da Open Video Conference, cujo objetivo, nada modesto, é mudar tudo o que conhecemos sobre vídeo na internet. O princípio é transformar o vídeo em elemento totalmente manipulável e integrado à rede. E o potencial disso é impressionante. Por exemplo, passa a ser possível identificar quem são as pessoas que aparecem em determinado vídeo e imediatamente gerar um link (ou um feed) para seus respectivos Twitters, perfis no Facebook e assim por diante.

Nesse sentido, tudo o que aparece na tela vira informação que pode ser processada. Torna-se possível identificar lugares (uma praça, uma rua, uma cidade etc.) e ir organizando e juntando todas as imagens existentes sobre aquele lugar em diversos vídeos, permitindo “navegar” por meio dos diferentes ângulos em que ele foi retratado. E isso abre a possibilidade para inúmeros novos modelos de negócio, como por exemplo identificar cada peça de roupa que apareça em um vídeo. Os fashionistas vão adorar. Ou qualquer outro produto que aparece na tela, já com links para onde comprar, críticas e comentários e assim por diante. Com isso, o conceito de “realidade aumentada” que se discute hoje fica parecendo brincadeira de criança.

O mais importante é que a possibilidade de inovação aberta e descentralizada que caracterizou o desenvolvimento da internet passa a valer também para vídeos, hoje fechados e controlados por alguns poucos formatos. Desde logo, acho que as TVs e os sites de vídeo no Brasil já poderiam começar a experimentar com os formatos abertos. Em vez de players em Flash, que tal usar Ogg-Theora? Quem adotar primeiro formatos abertos para seus vídeos sai na frente em termos de inovação e desbrava mercados ainda não explorados. É mais uma janela de oportunidade a não ser perdida.

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