por Luiz Alberto Mendes

Liberdade não é algo que atinge a gente de repente, como um raio vindo sabe-se lá de onde, ao abrir as portas do presídio. A vida na prisão é pressão psicológica constante; não se pode livrar dela assim como um passe de mágica. Logo de cara o sujeito passa por uma série de obstáculos de ordem psicológica que ameaçam a sustentação da vida fora da prisão.

Este é um dos motivos dos altíssimos índices de reincidência criminal. Há que haver uma descompressão, como o mergulhador que faz mergulhos de profundidade.

Valores e costumes precisam serem reavaliados; contensores (os porque não) devem ser criados. O que o preso imaginou como futuro fora da prisão, em geral, não existe.

A vida mesma não acontece no imaginário e sim na construção da realidade existencial de cada dia.

Um dia paramos de andar e, de repente uma sensação de plenitude nos preenche. Nesse instante mágico não sabemos quase nada de nós e muito menos do mundo, nem nos importa. Dentro de nós explodem sensações de tão boas e únicas que não há expressões para elas.

Nunca as havia vivido, sentido ou pensado; só olhando para o céu se encontra algo tão brutalmente sentido de tão vasto e infinito. E assim vamos começando nossas vidas em liberdade, lentamente, de sensação em sensação, passo a passo. Uma árvore, de repente nos encanta com sua folhagem exuberante, o vento que assobia nas quinas das casas, um cavalo que passa trotando, um carro reluzente que voa cantando os pneus, o mar a se quebrar em ondinhas prateadas e espumantes na praia, uma mulher que de tão bonita a nossos olhos chega a nos comover e dar vontade de chorar de tão embevecidos.

A vida que de repente torna-se poesia aos nossos estranhos olhos de ver. O coração palpita, o espírito alça vôo em profundo; liberdade é isso, asas, olhos, coração e espírito para ver, sentir e mergulhar no mundo, nos seres, nas coisas e na vida, enfim.

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