Liberdade sem filtros

Perto das possibilidades de conexão e interação oferecidas pela internet hoje, movimentos libertários do passado recente parecem pré-históricos

POR RICARDO GUIMARÃES*

Caro Paulo, Desde que comecei a viver a World Wide Web, fui obrigado a redefi nir meus parâmetros e expectativas sobre poder e liberdade em todos os aspectos. Outro dia, revendo os movimentos libertários de que participei durante a minha vida e comparando com as possibilidades de conexão e interação que a internet oferece hoje, me senti parte de uma distante pré-história da contemporaneidade.

Imaginei como seria o tropicalismo, movimento libertário e provocador da nossa consciência de identidade e de linguagem, se contássemos naquela época com a capacidade individual de produção e distribuição de conteúdo que temos hoje. Meu Deus! Acho que esse país enlouqueceria para sempre e seria o lugar mais feliz do mundo.

Tudo bem. Corta. Século 21. Atibaia, São Paulo, Brasil, convenção da Vivo, em que seu presidente, Roberto Lima, explica para 600 funcionários por que na sociedade em rede o indivíduo pode mais e vive melhor. Ao lado do Roberto, o Marcelo Tas, o Augusto de Franco e eu, formando uma mesa de debates.

Foi o Augusto de Franco que, com a autoridade de quem é íntimo do mundo das redes sociais, me recomendou um livrinho daqueles poderosos que dá para liquidar numa leitura de três horas, mas que você nunca mais tira da sua cabeceira: O poder das redes – Manual ilustrado para pessoas, organizações e empresas, chamadas a praticar o ciberativismo, de David de Ugarte.

QUALQUER UM NO PODER
A boa notícia pode ser sintetizada nas próprias palavras do autor: “Impulsionado pela mudança tecnológica, a forma da rede na qual se transmite a informação está se transformando. Se a estrutura da informação – e portanto do poder – adotava até agora uma forma ‘descentralizada’ – com poderes ‘hierárquicos’ e instituições com ‘poder de fi ltro’ –, as tecnologias como a internet a impulsionam cada vez mais a assumir uma forma ‘distribuída’, na qual qualquer um pode encontrar, reconhecer e comunicar-se com qualquer um”.

Do que eu gosto nessa história é do “qualquer um”. Porque na rede descentralizada há os poderosos que controlam a distribuição da informação com chance de manipulação e distorção; enquanto na rede distribuída a conexão é direta, sem fi ltros, o que relativiza ou acaba com a possibilidade do controle, criando uma dinâmica social mais espontânea, natural, viva e humana. É o que de Ugarte festeja: “... com a internet conectando milhões de pequenos computadores hierarquicamente iguais, está nascendo a Era das Redes Distribuídas [...] um movimento global no qual países de contextos muito diferentes, de fundamentos culturais e religiosos de todo tipo, desenvolvem movimentos cidadãos em rede que colocam a cidadania como fi scalizadora dos processos democráticos, denunciando fraudes eleitorais, corrupção e excessos autoritários dos governantes [...] é a materialização histórica da globalização da democracia e das liberdades”.

O poder das redes foi editado pela Edipucrs e está também no http://www.deugarte.com/ manual-ilustrado-para-ciberactivistas. Quem disponibiliza o endereço é o próprio Augusto no prefácio do livro, onde ele explica que a edição é “um empreendimento coletivo e voluntário”, que, pela urgência de colocá-la na roda, traz erros que ele pede que sejam corrigidos pelos leitores. Bem no espírito do mundo que se quer criar: imperfeito, humano, verdadeiro e solidário.

O Augusto está certo. Fica a dica para todo mundo cair na rede, usufruir e contribuir com seu poder e liberdade. Estou fazendo minha parte.

Abraço do amigo,

Ricardo.

*RICARDO GUIMARÃES, 59, é presidente da Thymus Branding. Seu e-mail é rguimarães@trip.com.br

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