Para quebrar as barreiras da idade e do preconceito, projeto de Portugal coloca idosos a partir de 65 anos para fazerem seus próprios rabiscos nos muros
O grafite é uma das artes urbanas mais expressivas: quem quer que passe pelas ruas coloridas pelas tintas em spray para pelo menos alguns segundos para observar os desenhos. Estes, nem sempre são bem compreendidos, confundidos com picho ou vistos como algo marginal.
O projeto Lata 65, de Portugal, quebra as barreiras de idade e de preconceito. Surgiu em 2012, durante uma conversa despretenciosa entre Lara Seixo, do WOOL (Festival de Arte Urbana da Covilhã), e Fernando Mendes, do Cowork Lisboa. A ideia inicial era a de fazer um workshop com idosos e tudo estava pronto quase que instantaneamente.
Desde então, Lara continua a levar o trabalho com os idosos e fez do projeto uma ONG. "Nunca pensamos que o Lata 65 continuaria. Mas dividir a minha paixão pela arte urbana com grupos de velhinhos (como os chamo carinhosamente), me dá imenso prazer", conta.
Para ela, dar continuidade ao trabalho é importante para mostrar que é possível ter um envelhecimento ativo através da arte. Se os idosos se interessam pelo projeto? "Eles se mostram sempre com uma vontade enorme de aprender e de se divertir, ao ponto de virarem crianças e olharem sua cidade com outros olhos".
Não são apenas mais rabiscos nas paredes, como chamam alguns dos idosos que participam. As pinturas, sempre feitas na rua (para deixar o contato com o grafite mais real), mostram estilo próprio e assumem papel de inclusão dos idosos junto com uma compreensão maior da cidade.
"Costumo dizer que a lata de spray tem algo de mágico: todo mundo gosta de experimentar. Idoso não seria exceção"
Nas oficinas, além de saírem a campo, eles aprendem sobre a história da arte de rua e criam seus próprios stencils. "É um conhecimento ingênuo e limitado, mas muito curioso. Por isso a parte inicial do workshop é importante, ela permite o esclarecimento de dúvidas e desmistifica os preconceitos pelas expressões artísticas de rua", diz Lara.
Para ela, a arte urbana tem o poder de transformar qualquer pessoa, independente da idade. "Acredito que é necessário criar novas atividades para os idosos, bem diferentes das habituais, como o tricô. Tem que ser algo que os motive, rejuvenesça e permita reconhecer a própria cidade. A arte urbana tem o poder de mudar economica, social e culturalmente as cidades".
Mais de 100 idosos entre 65 e 85 anos participaram do Lata 65. Como o projeto é independente, algumas iniciativas foram tomadas para conseguir o dinheiro necessário para comprar o material e continuar com as atividades. Qualquer pessoa pode contribuir, doando ou adquirindo bottons que eles disponibilizam para a venda. Para saber mais, acesse a fanpage aqui.