Justiça dolorida

por Luiz Alberto Mendes

Até que ponto?

 

Até que ponto podemos condenar um soldado que comete barbaridades em uma guerra, se a própria guerra para onde ele foi mandado já é genocídio? Há regras sobre como se deve matar o inimigo; talvez suavemente? Esta correto condenar no presente sem levar em consideração o que possa ter sido feito de bom e positivo no passado? Um deslize, próprio de nossa condição humana, vai arruinar toda uma vida de probidades e toda generosidade que tenhamos praticado? Porque será que tudo tem que ser tão desumano?

Desde quando preso acompanhava o desenvolvimento da política em nosso país. Aqui fora, leio o estadão de cabo a rabo e acompanho os principais noticiários na TV. Tenho acompanhado o julgamento do assim chamado "mensalão". Conheço alguns dos implicados, até votei em um deles. Isso de comprar votos de deputados para aprovar projetos é prática bastante antiga. Todos os governos anteriores, com exceção da época da ditadura militar que impunha, cometeram essa arbitrariedade.

É uma questão de oferta e procura: há deputados que vendem seus votos e há quem os compre. Por exemplo, as empreiteiras e multinacionais que dependem de tais votos. Vende-se pareceres, votos e influências. Os governos também compravam para terem seus projetos aprovados. O pessoal do "mensalão" praticava esse crime do mesmo jeito que os anteriores.

Caso tudo o que fiz contra a lei no passado fosse descoberto, a soma de minhas condenações seria astronômica. Bastou uma pequena parcela para que eu fosse obrigado a cumprir a pena máxima. O criminoso nunca é punido por todos seus crimes, apenas por aqueles que são descobertos. No caso do mensalão, muitos usaram e abusaram desse expediente e não foram denunciados. E quando descobertos, escândalos foram abafados. Era de conhecimento público, mas nunca foi possível provar (ou não houve interesse). Já o grupo que manipulava o tal "mensalão" produziu provas irrefutáveis. É uma questão técnica; quem foi pego paga pelos anteriores que não foram pegos. Não há como escapar, e é justo que assim seja para que essa prática nociva à nação seja extirpada de uma vez por todas.

Mas voltando ao início do texto: há uma pessoa que foi condenada no processo do "mensalão" e pelo visto, justamente. Segundo tudo indica, estava envolvido. Votei em Genoíno e não me arrependo; continuo confiando nele, apesar de. Ele sempre foi um exemplo de probidade, uma pessoa generosa e boa por natureza. É um homem de decisão, chegou ao ponto de jogar a vida pelos ideais que abraçava. Eu sempre o admirei. Só entendo o seu envolvimento porque sei que nós, seres humanos erramos, erramos muito e sempre, apesar de nossos acertos. E todos nós precisamos ser responsabilizados pelas nossas consequências.  

A sociedade precisa de exemplos claros e condenar todo tipo de corrupção é a única forma conhecida de coibir tal prática. Os deputados pensarão várias vezes antes de se corromperem com a venda de seus votos. Há um precedente jurídico agora. Talvez só por isso valha toda essa comoção nacional e o sofrimento prisional do  nobre deputado.

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Luiz Mendes

06/09/2013.   

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