Isabel Clark, a carioca que é uma snow boarder de peso

por Redação

Rio abaixo de zero

Quem se lembra do filme Jamaica Abaixo de Zero, a improvável porém verdadeira jornada de uma equipe de bobsled jamaicana que fez história nos Jogos Olímpicos de Inverno de 88, em Calgary, vai relacioná-lo à saga da carioca Isabel Clark.

Criada em família de classe média no Rio, Isabel cresceu fazendo hipismo e frequentando a praia de Ipanema. Esportes que envolvessem pranchas, ainda mais na neve, estavam muito longe de suas aspirações.

Até que, em 93, aos 17 anos, foi visitar o irmão mais velho, que morava na Califórnia. Juntos, deram uma esticada até Mammoth Mountain, uma das estações mais badaladas do Estado ensolarado. Mas os planos da carioca eram apenas olhar aquela paisagem tão diferente e curtir dias de descanso. Por insistência do irmão, acabou experimentando o tal do snowboard. Mas não levou muito jeito. Tombos e mais tombos quase a fizeram desistir. Só que Isabel é teimosa e decidiu tentar mais um pouco.

Isso, em 1993. Em 2005, ao ficar em 14º lugar na Copa Norte-Americana de esqui e snowboard, ela escreveu seu nome como a primeira atleta sul-americana a conquistar uma vaga para os Jogos Olímpicos de Inverno de Turim. Não é pouca coisa. Até porque, entre os tombos nas pistas de Mammoth e o impressionante 14º lugar nas de Mount Bachelor, no Oregon, muita coisa aconteceu.

A primeira e mais óbvia foi a dificuldade de morar no Rio e encontrar neve para treinar. Isabel ia mantendo a forma em práticas de wakeboard e longboard. Nas férias, se mandava para Valle Nevado, no Chile, onde ficava até o fim da temporada. A segunda, e também muito evidente, foi arcar com o custo do esporte e convencer patrocinadores de que uma carioca podia ficar entre as 15 melhores do mundo e fazer barulho no esporte.

Valle Nevado passou a ser não apenas palco de suas práticas, mas também local de trabalho. Para se sustentar e continuar sonhando com uma vaga olímpica, passou a dar aulas de snow. Entre uma e outra, treinava, fazia tricô, treinava. Ah, também arrumou tempo para casar com um chileno que se tornou seu treinador.

Nesse período, foi acumulando conquistas no boardercross, prova em que quatro atletas disputam uma corrida de obstáculos e vence quem chega primeiro. Ano passado, foi campeã da Copa Continental Sul-Americana, título que já havia faturado em 2001, mesmo ano em que ficou em 12º lugar no Campeonato Mundial da Itália. Sem falar nos dez Brasileiros que tem no currículo.

Pouco antes de conquistar a histórica vaga para os jogos de Turim/2006, Isabel sofreu um acidente que quase a tirou de cena. Depois de tentar uma manobra mais arrojada, ela caiu e bateu a cabeça. Ao voltar a si, não sabia onde estava ou o que havia acontecido. Teve que se afastar das pistas por um mês, fazer uma batelada de exames para só então voltar a treinar.

Tudo muito parecido com a história dos jamaicanos. Com uma diferença: ao contrário deles, nossa Isabel vai a Turim para brilhar e não apenas para fazer número.

NOTAS

EVEREST NORTE E SUL

Waldemar Niclevicz e Irivan Burda escalando pela face sul (nepalesa) estabeleceram o segundo acampamento a 6.500 m. Pela face norte (tibetana) Rodrigo Raineri e Vitor Negrete montam a base avançada a 6.200 m. O casal Paulo e Helena Coelho também estão por lá em sua quinta tentativa de chegar ao cume sem oxigênio suplementar.

SUPERSURF

Começou ontem com a categoria feminina a 19ª edição do Brasileiro de Surfe Profissional. Hoje, com a previsão de ondas maiores, os homens devem ir para água na Praia do Rosa (SC). O circuito terá cinco etapas e distribuirá R$ 660.000,00 em prêmios.

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