Audácia
Tenho a audácia de ser ignorante. Sou íntimo dos erros, campeão em matéria de fraquezas e falhas humanas. Meus limites vivem a me bater na cara. Uso a imaginação para ultrapassar cada longo instante da minha crescente ansiedade diante da insatisfação do que vivo. Quero mais que esse pobre instante entre o nascimento e morte que chamamos de existência. Não, não sou como todos. Desisti de tentar ser. As marcas, as cicatrizes e o chumbo entranhado que trago do passado vão além de meu corpo. É obvio que o meu presente é diferente de meu passado. Mas nem tanto. Esta claro que não sou mais uma ameaça social. Concedi, sou capaz de respeitar as regras da convivência social mesmo que não concorde com muitas delas. Preciso, desesperadamente, de cada uma das pessoas que me cabem. Somente elas são capazes de dar sentido à minha existência. Dependo exclusivamente de seres humanos para viver, como qualquer bebê. Continuo sendo um ser de cuidados. Não foi o medo que me parou. As ameaças não me assustam nem um pouco. Antes revoltam. Não temo o que possam fazer comigo. Conheço a dor como poucos. Aprendi a lidar com ela todos os instantes de meus dias. No máximo poderiam me matar. A morte é uma experiência obrigatória para cada um de nós e a minha maior curiosidade. Essa vida não me foi muito favorável desde o começo, talvez eu nem lamente tanto em deixá-la. Então, nada me intimida. Parei porque percebi que tudo o que eu precisava era de pessoas. E aprendi a conquistá-las com dedicação e comprometimento, em vez de querer comprá-las.
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Luiz Mendes