Por Redação
em 21 de setembro de 2005

A TRIP está de parceira nova. A partir desta edição, vamos trazer reportagens produzidas pela Venice Mag – revista mensal e gratuita com as principais notícias do mundo do surf: campeonatos, moda, comportamento, personalidades e viagens. Neste primeiro capítulo: há algo melhor do que ser dono de uma ilha de frente para tubos perfeitos? Pois dois paulistanos são sócios de uma na Indonésia, onde abriram um surf camp para poucos
por Deborah Giannini fotos Anselmo Venansi
O paulistano Rodrigo Guerra, 32 anos, estava numa fila de banco quando recebeu um telefonema do primo, Henrique Penna, 30, também paulistano. Sabe aquele sonho de comprar uma ilha? Ele aconteceu. Você está dentro? Seis meses depois, os primos, mais Steve Levine, 29, um amigo norte-americano, viraram sócios da ilha Asu, ao norte de Sumatra, na Indonésia. Os 1 500 m2 do lugar, facilmente percorridos a pé em duas horas, vieram com credencial de paraíso: selva intocada, ondas cristalinas e acesso restrito – no império só é permitido entrar dez pessoas por vez, para evitar o crowd.
Na ilha, os sócios construíram o surf camp Gangsta Paradise, com pacotes que evitam o perrengue mais freqüente nas viagens à Indonésia: escolher e negociar táxi e barco depois de ficar 20 horas dentro do avião. Criamos um pacote com as mordomias que sempre sonhei quando viajava para surfar, conta Rodrigo, que já dropou no Havaí, na Califórnia, no México, no Peru e na África do Sul.
O pacote cuida do transporte do surfista desde o desembarque no aeroporto internacional de Medan, capital da Sumatra, até sua chegada, de lancha, à ilha. Nosso charme é a exclusividade, promove-se Guerra. Ir onde pouquíssimas pessoas foram e ter a certeza de que haverá no máximo outros nove caras surfando.
Quase donos
Antes de ser dono de um pedaço da Indonésia, Rodrigo levava uma vida normal. Tinha uma Parati 1.8, trabalhava na empresa do pai e namorava há quatro anos. Decepcionado com o trabalho e desiludido no amor, ele recebeu a proposta na hora certa. Hoje poderia estar com um carro mais novo e casado, se tivesse engolido alguns sapos. Dei o sangue e doei literalmente a minha vida pela ilha, diz ele, referindo-se à malária que contraiu duas vezes desde que chegou ao local. O sonho sempre vem junto com o risco. E, se você fica com medo, não sai vitorioso.
Fechar negócio com os locais de Sumatra não foi fácil. Muitas das 17 mil ilhas da Indonésia ainda vivem sob o domínio de chefes locais chamados de kepala. Para arrendar qualquer pedaço de terra, é preciso a autorização desses caciques. No caso da ilha Asu, uma das oito do arquipélago Hinako, arrendada pelos empresários brasileiros por cinco anos, o negócio foi fechado com o filho do kepala da região. Agora somos sócios do dono da ilha e o playboy da região é nosso capataz, brinca Guerra. Embora as negociações sigam regras apoiadas em costumes ancestrais, o contrato segue as normas atuais e é registrado em cartório. O preço que pagaram pela ilha, preferem manter em segredo.
Nos seis meses que passa em São Paulo – de novembro a março -, Rodrigo se dedica a fazer marketing do surf camp e a fechar negócios com agências de viagens. Quando está lá, seu cotidiano é bem diferente. Acordo cedo, malho, faço contatos pela internet e vou cuidar dos hóspedes. A melhor coisa do mundo é trabalhar tendo aquele quintal onde, entre um negócio e outro, posso pegar ondas perfeitas.
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