Diversos eventos em São Paulo fazem debates sobre o consumo de maconha para além do crime
Recentemente, a descriminalização da maconha esteve em pauta. Alguns eventos foram responsáveis por isso entre eles O Simpósio Internacional Por Uma Agência Brasileira da Cannabis Medicinal, reuniu médicos e pesquisadores em 17 e 18 de maio para discutir a criação de uma instituição que regulamente o uso de cannabis medicinal. Na Matilha Cultural (em parceria com o Growroom) ocorreu, no dia 19, o encontro "Antiproibicionismo: Um debate autorizado!", um colóquio com especialistas de diversas áreas sobre uma possível descriminalização da maconha no Brasil. E o mais notório, a Marcha da Maconha, reuniu 300 pessoas (segundo dados da Polícia Militar) no Parque do Ibirapuera para pedir a legalização da droga no último domingo.
Marcha da Maconha
Pela primeira vez em sete anos de tentativas frustradas por liminares, a Marcha da Maconha de fato marchou. Sob intensa vigilância policial e do Ministério Público, os manifestantes puderam se reunir, mas não mencionar as palavras "maconha", "cannabis" ou "legalização". Os PMs ameaçavam com prisão as tentativas de burlar a determinação. Qualquer objeto que levasse a imagem da folha de maconha era proibido. Alguma pessoas tiveram de virar camisetas do avesso e jogar foram adesivos. A solução foi acatar as determinações impostas pela polícia e gritar: "pamonha!", "orégano!" e "vergonha!". Um rapaz que carregava um cartaz com os dizeres "Não fumo, não compro, não planto, não condeno" escapou por pouco de ser preso. Apesar de não estar fazendo apologia ao consumo de drogas (proibida por lei), ele teve de contar com a intervenção do deputado federal Paulo Teixeira (PT) para não para a cadeia.
Nossa reportagem esteve no debate na Matilha Cultural, do qual participou como mediador o colunista da Trip Alê Youssef. Dentre os temas abordados, os caminhos e os entraves para a legalização da maconha e como estruturar a venda da droga uma vez que sua venda deixe de ser ilegal. Advogada, Marisa Feffermann disse que "o ilegal produz um desejo muito grande de transgressão" quando questionada se não haveria aumento do número de consumidores se a venda de maconha deixar de ser um crime, mesma opinião do antropólogo Maurício Fiore: "Duvido que a gente tenha um universo caótico onde as pessoas se entreguem às drogas".
Realista, o antropólogo Anthony Henman lembrou à plateia que apesar de existirem experiências de permissão da venda de maconha em alguns lugares do mundo (como Holanda e Portugal), ela ainda não é completamente legal: "Não tem nenhum lugar que legalizou completamente a maconha. Em lugares como a Holanda, decisões políticas locais permitiram a venda e o consumo. Em lugares como a Jamaica, o uso da maconha tem legitimidade cultural, então as pessoas param na esquina e fumam abertamente".
Alê Youssef foi mais longe na análise e falou da relação dos políticos com o tema: "A melhor parte do debate foi aquela que tocou no papel do político na discussão sobre drogas. Foi unanimidade: todos os políticos em época de eleição fogem, do tema, mesmo os que apoiam. O mais importante é essa lição de que as pessoas não pode fazer isso, elas não podem esconder as coisas nas quais elas acreditam para serem eleitas".
Foi consenso geral que é necessário repensar os termos em que a maconha é pensada para haja avanços no combate ao tráfico de drogas seja combatido, mas pouco se falou sobre como administrar uma futura legalização. No caso de como a droga seria vendida, falou-se em opções como permitir o plantio domiciliar, venda controlada pelo governo e até em reutilizar a estrutura atual do tráfico para comercializar maconha. Outro ponto pouco mencionado foi o possível impacto sobre o sistema público de saúde. A advogada Marisa Feffermann, que também é pesquisadora do Instituto da Saúde, afirmou que ainda não existem estudos feitos a respeito dessa questão.
Os debates e a manifestação mostraram que há avanços, ainda que tímidos, na discussão sobre a questão das drogas. Porém, ainda é necessário expandir a reflexão a todas as áreas envolvidas para que existam propostas claras na administração de um mundo pós-legalização da maconha.
Saiba mais: nos sites da Marcha da Maconha e Growroom