HQ, literalmente

por Diogo Rodriguez

Ativista e cartunista, Mauricio Pestana lança história da Revolução de 32 em quadrinhos

Ativista dos direitos humanos e dos negros, o cartunista Mauricio Pestana, 45, já tem 30 anos de carreira. Começou no Pasquim, como assistente de Henfil e espalhou seu trabalho por escolas e ONGs publicando livros como Manual de Sobrevivência do Negro no Brasil. Negro ele próprio, vê pouco espaço para as pessoas de pele escura nos meios de comunicação. Ele é presidente do conselho editorial da revista Raça Brasil, já publicou na Europa, entrevistou o presidente Lula e agora lança uma história em quadrinhos sobre a Revolução de 32.

Você conhecia a Revolução de 32 antes de fazer o livro?
Eu sabia algumas coisas que eu tinha aprendido na escola, mas não tinha feito uma pesquisa ampla como eu fiz pra esse livro.

Como foi a pesquisa de imagens?
Eu tenho me especializado em fazer esse tipo de trabalho. Eu tenho outros livros nessa linha. Fiz sobre a Revolta da Chibata, sobre a Revolta dos Búzios, que aconteceu em Salvador, chamada também de Revolta do Alfaiate. Esses outros trabalhos que eu fiz foram mais complicados porque, por exemplo, no caso da Revolta dos Búzios, que aconteceu em 1890, não tinha fotografia, imagem. Fazer esse trabalho sobre a Revolução de 32 foi fácil porque aconteceu aqui em São Paulo e tem muitas fotos.

Por que fazer o livro com base em fotografias?
É uma história em quadrinhos educativa. Eu tive que falar sobre o Getúlio Vargas, que foi o estopim da revolução, foi o cara que foi ao poder e que estava tomando algumas atitudes autoritárias que iam conduzir o Brasil para uma ditadura. Para fazer a figura do Getúlio, tinha a fotografia dele. Para fazer a figura dos quatro jovens que foram mortos pela polícia, tinha fotos. É uma história em quadrinhos com muita referência fotográfica.

Você milita faz tempo nos direitos civis e humanos?
Tenho quase 30 anos de profissão. Comecei no Pasquim. Fui assistente do Henfil. Trabalhei também no Jornal da República, que circulou durante uns seis meses.

Foi no Pasquim que começou sua vontade de trabalhar com esses temas?
Foi. O Henfil foi uma influência fantástica, ele foi quem deu o pontapé inicial. Ele olhou para o meu trabalho e disse “você poderia seguir nessa área de direitos humanos”. Até porque eu sou negro, não tinha nenhum cartunista negro, e hoje ainda não tem.

Por quê, na sua opinião?
É uma área muito delicada, restrita, que exige um bom nível de educação, uma [capacidade de fazer] crítica social, um nível de informação que é mais para quem trabalha na área de comunicação. E tem poucos comunicadores negros no Brasil, não só cartunistas.

Você tem um trabalho específico para a formação de cartunistas negros?
Tenho. Dou muitos cursos pelo Brasil, em Brasília, Salvador, Teresina e em São Paulo também.

Quais são suas maiores influências além do Henfil?
É difícil de dizer. Daquela geração do Pasquim, Edgar Vasquez, Nani, a minha linha segue um pouco aquela linha, tem um traço mais de cartum, mais social, mais rápido, não é uma coisa definida, acadêmica.

E quais são suas referências máximas nos quadrinhos?
Henfil, Paulo Caruso, Chico Caruso.

Alguma outra coisa que você tenha lido com a qual você identifica, além dos brasileiros?
Gosto do Maus [de Art Spiegelmann], adoro sobretudo a temática que ele trabalha, a violência contra os judeus. Aliás o Maus é o tipo de trabalho que eu gostaria de fazer, algo parecido.

Algum projeto futuro em mente?
Eu quero reunir todo o meu trabalho. Quero fazer um álbum para mostrar a evolução do meu trabalho, a área de educação, a questão racial, esse é meu sonho. Não quero que isso se perca. Eu trabalho em várias áreas, tenho uma obra grande, mas ela está espalhada por ONGs, governo, editoras.

Hoje existe cartum engajado?
Mudou um pouco. Eu diria que a comunicação em geral no Brasil mudou. Até tem, mas é muito específico, trabalhando em áreas como os direitos humanos, sindical. O espaço [dado] a esse material não é o mesmo.

A internet é uma ferramenta ou atrapalha?
Ela é essencial. É uma ferramenta fundamental para espalhar o trabalho pelo mundo. Hoje eu recebo encomendas de outros países pelo meu site.

E essa sua relação com o exterior?
Eu vou com muita frequência aos Estados Unidos fazer palestras sobre meu trabalho com direitos humanos. Vou a universidades, em organizações de luta pelos direitos humanos com relação às questões ligadas ao negro. Tenho mais reconhecimento lá do que na Europa, apesar de eu ter lançado um álbum na Europa e nunca ter lançado nos Estados Unidos.

Vai lá: Confira o site de Mauricio Pestana

 

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