Luiz Alberto Mendes justifica seu voto em Dilma Rousseff

Por coerência, votarei em Dilma. Não tenho dúvidas. Não a conheço bem e posso me decepcionar, mas é muito mais interessante alguma esperança que nenhuma. O outro lado conheço bem. Dominam nosso Estado há muitos anos. Depois da morte de Franco Montoro e Mario Covas, pilastras do partido que fundaram, seus aliados se colocaram cada vez mais à direita.

O PSDB realizou muito em São Paulo e até no Brasil. Mas, no essencial, muito pouco fizeram. Tiveram todas as chances e deixaram tudo como estava. A distribuição de renda do país, por exemplo, se verticalizou cada vez mais, aumentou a quantidade dos que empobrecem. E é aí que está o divisor de águas que para mim pega.

A família quase toda de Íris, minha ex-mulher, vive no sertão do Nordeste. Antes do governo Lula, a miséria era geral. A seca acabava com os recursos naturais e a ajuda do governo nunca chegava. Íris relatava dias em que acordava e não havia nem uma raiz para comer. Em contrapartida, os políticos da região ficavam todos ricos. Não havia água, luz ou banheiro. As pessoas faziam suas necessidades no mato, igual bicho. A escola e o hospital eram distantes, e as crianças cresciam doentes e analfabetas. O índice de mortalidade infantil era um absurdo. E o povo nem sequer reclamava, achava que estava pagando pecados, que era obra de Deus.

Com o governo Lula mudaram as perspectivas. Tudo mudou. Fizeram escola e posto de saúde mais perto. Chegou também merenda, bolsa-escola, médico e remédio. E o bolsa-família ajuda a alimentar aquele povo, ninguém mais passa fome. As crianças crescem fortes e sadias, e a mortalidade infantil caiu. Poços artesianos foram vazados e cisternas foram construídas. Agora não falta água nem na época de seca. Chegou energia elétrica, o povo agora tem geladeira e está até assistindo TV. Banheiros foram construídos e normas mínimas de higiene foram ensinadas. O sertão é outro. As pessoas têm muito mais qualidade de vida e chances de se realizar. Claro, há muito o que fazer ainda. Mas já se deram grandes passos.

Se Dilma é continuação do que vem fazendo Lula, para mim é mais que coerente votar nela. Na época dos militares, essa mulher foi pegar em armas para combatê-los. Foi presa e torturada pelo ideal que acreditava, num tempo em que as mulheres nem falar muito podiam. O preconceito era estupidificante. É uma mulher de coragem e ousadia, isso é inegável.

Sacrifício Suficiente

No Estado de São Paulo, por coerência também, voto em Aloizio Mercadante. Conheço Mercadante desde o começo do PT. Acho ele e o Eduardo Suplicy alguns dos poucos homens dignos ainda na política. Como nenhum deles assumiu cargo executivo ainda, fica a questão: vão representar? Mas, como no caso da Dilma, há esperanças, é possível. O outro lado a gente já conhece. Já nos sacrificaram demasiadamente. Com certeza fariam o mesmo governo burocrático que fazem aqui no Estado de São Paulo.

Sei que mudanças significativas só com o tempo se consolidarão. Todos os esforços deveriam ser centrados em acabar com a miséria, a fome e dar qualidade de vida ao nosso povo. Mas, devagar e aos poucos, o país está acolhendo sua população mais carente e desfavorecida. Que não falte o necessário para que todos possam viver com dignidade é o ideal mais importante de nossa pátria.

 

*Luiz Alberto Mendes, 56, é autor de Memórias de um sobrevivente, sobre os 31 anos e 10 meses que passou na prisão. Seu e-mail é lmendesjunior@gmail.com

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