Fumantes Anônimos

por Redação

Segunda-feira, oito da noite. Local: uma igreja na Zona Sul de São Paulo. Ao lado de saletas onde acontecem reuniões de alcoólicos, narcodependentes, compulsivos por comida, neuróticos, jogadores e devedores, outro grupo se reúne para discutir seus problemas e a solução para seu vício: o cigarro. São os Fumantes Anônimos.Há cerca de dois meses, o comerciante Pedro, 34 anos, fumava quatro maços de cigarro por dia. Em uma sala de reuniões da Irmandade de Fumantes Anônimos (F.A.), ele compartilha com outros participantes a alegria pelo fato de estar há 60 dias sem tabaco. Devo isso a todos vocês.Num outro canto da sala, a enfermeira Thelma, 44 anos, ouve a tudo com atenção. Estreante em encontros dos F.A., Thelma contou ao grupo que seu hábito de fumar um ou outro cigarro havia se tornado, nos últimos dois anos, uma verdadeira compulsão. Ao decidir filiar-se aos F.A., Thelma escolheu Pedro para ser seu padrinho. Ganhou do amigo um pedaço de madeira roliça, de formato similar a de um cigarro, que carrega na bolsa. Sempre que sente vontade de fumar, Thelma segura a madeira, para tentar suportar o desejo de acender um cigarro. Concebidos nos moldes dos Alcoólicos Anônimos, os F.A. acreditam que a troca de experiências reforça a vontade de parar de fumar e ajuda a controlar as crises de abstinência. A idéia é mostrar que, se uns conseguiram, outros também vão conseguir, explica Sara, uma das coordenadoras do encontro. As reuniões, com duas horas de duração, acontecem em salas simples, alugadas de igrejas ou associações diversas. Entre relatos comovidos e palavras de incentivo, os integrantes repassam aos outros o que aprenderam com o panfleto Doze Passos do Programa de Fumantes Anônimos, um espécie de guia com dicas para a recuperação do dependente.É mais difícil que largar a cocaína, confessa Fábio, que fumou por 17 anos, teve diversos problemas respiratórios e gastrite. Mesmo com a saúde debilitada, tinha crises em que chegava a acender três cigarros consecutivos. Para tentar parar, tentei de tudo: terapias com substâncias que dão náuseas, fui parar até em igrejas... Mas só segurei a onda por causa do apoio que recebi nessa sala, conclui. Em silêncio, todos trocam olhares de cumplicidade e concordam com ele. Flávia MartinelliOs grupos de F.A. ainda são poucos no Brasil e contam com a ajuda da central de informações dos Alcoólicos Anônimos para divulgar o local das reuniões. O telefone de contato é (011) 225-9333.
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