Youssef: ”Sabemos que a noite é feita de ciclos e só alguns projetos marcam seu tempo”
Encerramos a casa noturna com muito orgulho de sua trajetória e um enorme sentimento de gratidão a todos os frequentadores e amigos, artistas e bandas que por lá passaram
Em abril deste ano, após oito anos de vida intensa e cerca de 2.100 shows, o Studio SP encerrou suas atividades. A notória e agressiva especulação imobiliária que atingiu o Baixo Augusta e trouxe incertezas à noite é apenas um dos motivos da dura decisão que eu e meus sócios Guga Stroeter e Maurizio Longobardi tomamos. A principal razão é de ordem pessoal e tem relação com novos rumos das nossas vidas e com novos projetos que precisam de dedicação.
Encerramos o Studio SP com muito orgulho de sua trajetória absolutamente independente, sem nenhum centavo de dinheiro público direto ou incentivos fiscais recebidos, e terminamos o trabalho com um enorme sentimento de gratidão a todos os frequentadores e amigos, aos artistas e bandas que por lá passaram e aos funcionários que ajudaram no percurso. Peço licença ao leitor para lembrar alguns momentos marcantes da casa.
_A noite Instituto e a Seleta Coletiva, pilotadas por Daniel Ganjaman, durou sete anos e apresentou muitos artistas, como Emicida, Hurtmold, Curumin e Thalma de Freitas. O projeto culminou com os shows preparatórios do repertório de Criolo, artista que se apresentou diversas vezes na casa.
_O Studio SP Apresenta lançou artistas e discos importantes, com destaque para os lançamentos de Céu, Cidadão Instigado, Tatá Aeroplano, Vanguart, BNegão e Turbo Trio e Cibelle.
_O Cedo e Sentado, projeto de formação de público para novas bandas e democratização do acesso à música, foi plataforma de lançamento de novos artistas ao longo dos oito anos da casa. Foram lançados pelo projeto nomes como Tulipa Ruiz, Tiê, Mallu Magalhães, Thiago Pethit, Karina Buhr, Rômulo Fróes e Bárbara Eugênia.
_A noite Fora do Eixo hospedou e apresentou para São Paulo o notabilizado coletivo cultural. Lançou na cidade nomes como Macaco Bong e Móveis Coloniais de Acaju.
_A casa articulou também vários de seus residentes para prestar tributos às bandas e aos artistas que os influenciaram. Desse processo nasceram alguns clássicos da noite, como Heroes, de André Frateschi, I love Amy, de Miranda Kassin, Del Rey, de Mombojó e China, Seu Chico, de Vitor Araújo Tibério Azul, e Vangbeats, do Vanguart.
_Com curadoria de Lucio Ribeiro, o projeto Rockload, nos primeiros anos da casa, apresentou e lançou nomes como Cansei de Ser Sexy (CSS), Bonde do Rolê, Jumbo Elektro e Cérebro Eletrônico.
_A Invasão Sueca, em parceria com o Coquetel Molotov, foi um festival desbravador de uma nova fase de shows internacionais em clubes e casas noturnas. Ao longo de três edições, o projeto trouxe pela primeira vez ao Brasil nomes como Peter Bjorn and John, Erlend Oye e Jens Lekman.
_Juntamente com o produtor Marcos
Boffa, o projeto Folk-se focou na cena do então novo folk americano e trouxe pela primeira vez ao Brasil nomes como Bonnie Prince Billy, Bright Eyes e Smog.
_O Studio SP Incentiva, coordenado pelas atrizes Carolina Mânica e Luciana Caruso, destinou rendas de shows e festas para fomento da produção de cinema e teatro. Destaque para produções de Mário Bortolotto e Beto Brant.
_Criados para a valorização de música e arte de rua, atividades circenses e performances, os projetos Cabaré Volátil e Incrível Show de Talentos tiveram apresentações dos atores Julinho Andrade, Tainá e Titi Müller, do acrobata Lú Mineiro e das bandas Vaudeville e Mustaches e os Apaches.
_ Shapeart e Las Tablas foram exposições de artistas plásticos em skates e pranchas de surf que reuniram nomes como Guto Lacaz, Ivald Granato e Pink Wainer. Elas se juntaram ao ambiente do Studio, que foi decorado ao longo dos anos por artistas como Osgemeos, Speto, Titi Freak, Rodrigo Chã, Jay e coletivos artísticos das galerias Choque Cultural, Grafiteria e Emma Thomas.
_Um lindo projeto de fomento à literatura marginal também rolou: a Trilogia Suja de Sampa, com Xico Sá, Clarah Averbuck, Alex Antunes e convidados fazendo leituras e escolhendo a trilha sonora da noite.
_Por fim, lembro do Festival de Política da Trip, realizado em parceria com essa editora e que lotou a casa em pleno domingo de sol, reunindo de forma inédita ativistas, cineastas, artistas e músicos para debater outras formas de fazer política.
Sabemos que a noite é feita de ciclos e só alguns projetos marcam seu tempo. Napalm, Carbono 14, Lira Paulistana, Aeroanta, Blen Blen e agora Studio SP. Que venham os próximos lugares mágicos que fazem São Paulo ser a capital da cultura alternativa do Brasil e um lugar melhor para viver.
*Alê Youssef, 38, é criador do Studio SP e do Studio RJ, um dos fundadores do site Overmundo e presidente do bloco Acadêmicos do Baixo Augusta. Foi coordenador de Juventude da prefeitura de SP (2001-04). E-mail: alexandreyoussef@gmail.com/Twitter: @aleyoussef