por Luiz Alberto Mendes

Deus

 

Caso eu acreditasse que Deus “falasse” com um ser humano, eu conversaria com Ele a vida toda. Já em pensar “Ele”, sinto uma herezia inominável. Como “Ele”, qual fosse uma pessoa? Deus ainda dá para falar, porque generaliza; se pode até dizer Deus dos cristãos, dos islâmicos, budistas, induístas… O que em si já é uma contradição irreconciliável. Mas dá para entender que cada povo entende segundo sua cultura e que é exatamente nessa dimensão que cada uma das religiões concebe Deus. Mas, antropomorfizar não deveria ser a saída. É extremo absurdo pensar Deus como um homem. Mesmo que fosse um homem enorme, do tamanho do planeta. Mais louco ainda ver Deus como um velhinho de barbas lá no “céu”. “Céu” é mais uma sandice da enorme coleção de absurdidades que nos foi legada pelos homens da idade-média. Tem uma música do Gilberto Gil que fala “se eu quiser falar com Deus…” e ai continua numa das conversas mais sérias, sinceras e profundas que já vi alguém ter com Deus.

Nas religiões africanas, os deuses (e não hierarquia entre eles) são mais parecidos conosco; amam, odeiam, gostam de sexo, bebem, fumam, ajudam, atrapalham… Fazem quase tudo o que fazemos mas na condição de deuses, enormemente, cheios de poder e força. E as pessoas vão pedir a eles solução para coração ferido, alívio para dor na alma, forças para a vida e… também para arrumar uma namorada bonita e prendada. E vão também a seus deuses para vinganças, emoções violentas, guerras; os deuses são uma extensão deles, verdadeiros e consistentes, quase coabitam juntos. Gostaria de uma opinião direta de Deus sobre isso, sem nenhum tradutor, religioso ou intermediário querendo mediar a conversa.

Lendo a bíblia e conversando com católicos e protestantes, achei muito estranho algumas coisas. O deus que eles falam é um deus pequeno, vingativo, cruel, que não perdoa, “deus dos exercitos”, por exemplo. Religiosos benzem canhões e bombas em nome de Deus de ambos os lados que guerreiam. Os que vão para a morte os saudam acreditando que a benção deles poderá salva-los da morte certa em combate. Um Deus que manda “7 pragas”; extermina Sodoma e Gomorra porque não havia nenhum justo. E quando houve, na humanidade, alguém realmente justo? Jesus? Sim, eu acredito em suas prédigas morais e creio mesmo que ele, como exemplo vivo das reais possíbilidades humanas, é mesmo o caminho. Amarmo-nos uns aos outros (Freud dizia que “acabaremos por amar os outros como forma de sobrevivência”), perdoar aos inimigos, dar de comer a quem tem fome, fazer aos outros o que queremos que nos façam, dar a Cezar o que é de Cezar e, principalmente; não julgueis para não serdes julgados, um dia há de virar regra geral de educação para nós seres humanos. Queria muito conversar com Deus sobre essas coisas; aprender um pouco mais…

Estaremos, em breve, pelo que nos falam os cientístas e futuristas, diante da sequinte equação: ou nos amaremos e faremos tudo o que pudermos uns pelos outros, ou acabaremos com o planeta, com a raça humana e as demais raças. Preocuparamo-nos com as outras pessoas, com os animais, com as árvores, as plantas, as águas, as terras e com o planeta será algo fundamental para nossa sobrevivência enquanto espécie. Acho que nesse ponto dessa hipotética conversa com Deus, eu só escutaria, embevecido…

São Galaxias com centenas de milhares de estrelas e sistemas estelares maiores que o nosso. À medida em que aumenta sua capacidade de devassar o Universo, o homem vai descobrindo novas galáxias, quazars, buracos negros e outros fenômenos. O macrocosmos prova-se infinito para o homem. A molécula é a última partícula visível da matéria. O átomo ainda não foi visto, embora tenha sido registrada sua passagem pelo Tubo de Galvês e seja matematicamente mensurado. Mas já é dividido em eletrons, protons e neutrons. E estes mesmos já são divididos em neutrinos e protinos, atestando que o microcosmos é infinito também. Como pensar na existência da vida sem lembrar que ela em si se constitui em fenômeno infinitamente complexo? Qualquer informação no diálogo com Deus sobre isso seria de primeira mão, puxa, valoroso e precioso demais!

Queria perguntar como o criador disso tudo ainda tem tempo e saco para se preocupar com nossas picuinhas, sandices e mesquinharias. O que somos nós no contexto universal: mais que um grão de areia? Mas se pudesse, bem que eu gostaria de falar com Deus, não com esse ar confessional que quase todos fazem. Não sei até que ponto tenho culpa de ser quem sou e, principalmente, não adianta reclamar do leite derramado. Fico empolgado com a idéia de um criador que faça com que tudo isso tenha sentido. Puxa, é emocionante.

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Luiz Mendes

10/02/2014.

                                    

 

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