Fotógrafo abre exposição na Matilha Cultural celebrando 20 anos de carreira
Nascido em São José do Rio Preto, Fábio Bitão passou anos divindo-se entre a carreira de fotógrafo e skatista profissional. Como atleta pegou a melhor fase da história do skate brasileiro, quando o circuito profissional de street tinha provas em todo país com alta premiação e forte apoio das marcas nacionais. Pro desde 1994, parou depois de não conseguir se destacar nos campeonatos apesar da enorme experiência. Há três anos assina uma coluna fotográfica na revista 100% Skate, onde firmou ainda mais seu nome como destaque da mídia do skate brasileiro.
Celebrando seus 20 anos de carreira como fotógrafo, Bitão inaugura nesta quinta (9) a exposição [o]92ateoinfinito, nos dois andares da galeria Matilha Cultural, no centro de São Paulo. No acervo, mil fotos dividem espaço com obstáculos skataveis criados a partir de material reciclado, em uma das maiores exposições dedicadas ao skate da história da galeria.
Bitão não é novato no trabalho artístico. Participou da mais recente edição do MCD Lab em São Paulo com uma instalação montada nas escadas da galeria Logo, possui um acervo de mais de 50 mil negativos, foi parceiro de Alexandre Sesper na idealização da exposição Reboard e já trabalhou até um projeto antropológico com curadoria da própria Matilha. Fascinado por música, coleciona LPs e câmeras antigas quase compulsivamente. Fontes de amor e de gastos, os hobbies são sua diversão infrormal. "Não gasto dinheiro com nada. Só compro vinil e câmera", ele contou em entrevista exclusiva à Trip. "Mas não compro tudo o que eu vejo não. Gosto de um preço bom" [risos].
Batemos um papo com Bitão durante a montagem da exposição e, entre barulhos de martelos e lixadeiras, falamos sobre skate, fotografia e evolução do esporte.
"O retrato é só um marco, um momento. O que vale pra mim é trocar uma ideia, conhecer gente mesmo"
Trip: O que veio primeiro? O skate ou a fotografia?
Bitão: O skate veio antes. Eu já andava desde molequinho e passei pra profissional em 1994. Na época que comecei a fotografar sério eu já andava de skate, conhecia um pessoal que corria campeonatos e tinha acesso a material e às pessoas. Aí comecei fotografando os amigos mais próximos.
O que te motivou a começar a fotografar?
Eu já curtia fotografia desde pivetinho. A primeira câmera que eu tive foi uma semiautomática pequena com filme 126mm que o meu pai me deu. E isso fez eu começar a curtir fotografar desde pivete. Mas isso era bem amador mesmo. Aí em 1981 me increvi num curso de fotografia com um amigo e comecei a aprender fotografia de fato, conheci algumas técnicas, bem o básico da fotografia. Um ano depois eu já publiquei minha primeira foto, aí não parei mais. Foi aí que eu disse: "achei minha profissão".
Como o skate entrou na sua vida?
Andei a primeira vez no skate que meus primos mais velhos ganharam de natal quando eu era moleque. Eu nem conseguia ficar em pé. Tinha uns seis anos. Mas na hora eu peguei muito amor pela parada. Na hora a minha mãe se ligou que eu tinha curtido. Dominei o skate dos meus primos e nem devolvi mais [risos]. Depois minha mãe foi viajar e trouxe pra mim um skate DM, que era uma marca boa para a época. Não era que nem aqueles skates Bandeirantes, que eram uma porcaria [gargalhadas]. Isso era final dos anos 70, um dos primeiros booms do skate no Brasil.
E foi amor à primeira vista...
Cara, demais. Eu não conseguia dormir depois que ganhei meu primeiro skate. Eu ia deitar e ficava pensando que queria andar. E nem existia esse negócio de skate profissional na época. Eu só queria andar de skate. Queria andar de skate pelo resto da vida e nem existia campeonato ainda [empolgado]. Eu nem imaginava que ia competir. Era totalmente for fun.
Como se manter relevante depois de 20 anos fotografando para as maiores revistas de skate da América Latina?
O que me mantém mesmo em atividade é a impressão da minha identidade, sempre. É isso o que eu procurto mostrar. Quero ter sempre meu estilo próprio na fotografia. Se você tá no game é pra você jogar. Fotografia é minha vida. O skate é minha vida. Tudo isso faz parte de quem eu sou. Nunca vou parar porque pra mim tudo isso é natural. E sempre gosto de fazer com minhas próprias mãos. Sou do faça você mesmo. Sejam as rampas, sejam as ampliações das fotos, gosto de fazer tudo no meu laboratório. Assim tenho total controle de todo o processo.
Depois de fazer mil viagens internacionais, clicar seus amigos, seus ídolos e participar de vários campeonatos, o que ainda falta atingir profissionalmente?
Eu quero conhecer muitos lugares ainda. Ainda tem muita gente que eu gostaria de fotografar também. E não só pela fotografia. O que eu quero é conhecer gente. Dou muito valor para a chance que a fotografia me dá de me aproximar das pessoas. O retrato é só um marco, um momento. O que vale pra mim é trocar uma ideia, conhecer gente mesmo. Eu já cheguei a conhecer vários ídolos e gente que eu admiro. E quero continuar assim.
"A criançada não aprende mais ollie, aprende logo o flip. Eles já querem chegar presidente. Nenhum deles quer ser deputado [risos]"
Quem são seus skatistas favoritos de fotografar? Quem são aqueles que sempre rendem imagens muito boas?
Tem uns caras que rendem muito. Lógico que existem muitos outros skatistas que também são ótimos em sessões de foto, mas tem alguns para mim que são sensacionais e que garantem pelo menos uma foto muito foda. O Bob Burnquist é um. Eu o fotografo desde que ele tinha uns 16 anos e sempre sai coisa muito boa. Ele curte fazer foto, o que também ajuda no meu trabalho. Ele foi o primeiro profissional que me convidou para fazer fotos com ele. Fora ele tem o Rodrigo TX, que é um prodígio. O Wagner e o Rodolfo Ramos também. São dois irmãos que sabem muito e sempre voltam umas manobras embaçadas.
Pelos olhos de um fotógrafo de skate, o que mudou no esporte nesses últimos 20 anos?
Cara, informação. Hoje tá tudo na sua cara. Material de skate e de fotografia muito barato. Tudo ficou bem mais fácil. Hoje para andar de skate basta você querer. Antigamente era bem mais difícil. Não existia nada antes. Hoje o esporte tá mastigado, tantro é que a molecada que começa a andar sério já chega arregaçando. É moleque de 12 anos dando 1080, andando em Megarrampa... Você sente que eles até queimam umas etapas. A criançada não aprende mais ollie, aprende logo o flip. Eles já querem chegar presidente. Nenhum deles quer ser deputado [risos].
Com a fotografia eu sei que você não vai parar. E com o skate?
Depois de uma certa idade você nem se preocupa mais com isso. Se você tiver um físico legal você pode prolongar o skate por toda sua vida. O carrinho é um transporte. É um estilo de vida. Skate não é só escada e corrimão. Eu deixo as manobras pra molecada. Para mim o skate continua sendo diversão e vai ser pra sempre.
Vai lá: Fábio Bitão - [o]92atéoinfinito
Quando: de 09/08 a 01/09, de terça-feira a domingo, das 14h às 20h
Onde: Matilha Cultural - Rua Rego Freitas, 542 - República, São Paulo
Quanto: grátis
Site: www.matilhacultural.com.br