Os homens que saem da prisão não são menos ou diferentes dos demais homens existentes
PRECONCEITO É PARA POBRE
Para conviver em meio a toda a confusão que aparenta a sociedade moderna, as pessoas criam estratégias de acordo com suas possibilidades. Conceituar antes de acontecer parece com prevenir. Mas é somente descriminar covardemente. No caso do egresso dos presídios é o obstáculo mais sério à sua reinserção social. E isso é extremamente nocivo à sociedade. Um dos geradores da confusão e do caos ambiente.
Não chegam a 300 mil homens aprisionados no país. Mas muita gente passou pela experiência prisional. Outro dia vi Malluf fazendo propaganda política na TV. Hoje em dia governadores, juízes, políticos, policiais, empresários estão sendo presos. Mas preconceito é reservado só para o ex-presidiário pobre. Porque ele precisa trabalhar para sobreviver. E é nessa parte, a do trabalho, que o preconceito mais sacrifica. É a sobrevivência. Fagner canta que “e sem o seu trabalho (honra), se morre, se mata, não dá para ser feliz...”
Egressos ricos são tão poucos e ficam tão pouco tempo presos que não dá para contar nem como exceção. Com certeza o Juiz Nicolau esta sendo muito bem recebido pelos seus pares sociais. Fraudadores do INPS, assim como políticos prevaricadores, somente para exemplificar, não são encarados como ladrões. Corrupção e crime de colarinho-branco são crimes classificados como hediondos. Recente, com a iniciativa popular por “fichas limpas”, descobrimos centenas de políticos com processos em tramitação. Como diria Bernard Shaw: Em um reino, quando se rouba um pão (e pão ai representa roubar para comer) vai preso; quando se rouba o reino, torna-se rei.
Os livros que escrevo são taxados de “literatura prisional”. Isto é, algo abaixo das outras “literaturas”. Nos States é bem diferente. E olha que eles têm ¼ da população de presos do mundo. Além das leis para proteger e vigiar o egresso de suas prisões, a arte produzida na prisão é arte ainda e bem recebida. Cerca de 7% da literatura naquele país é produzida na prisão. Mumia Abul-Jamal, há 15 anos no corredor da morte, tem suas crônicas replicadas em mais de quatrocentos jornais americanos. Na TV a cabo recebemos aqui várias séries e documentários produzidos na prisão. “Ós”; “Vida na Prisão”; “Atrás das Grades”; “Bastidores: Condenados à pena de morte”; “Prisões: segurança máxima” e outros que não me recordo. Os filmes americanos sobre prisão são tantos que nem cito com receio de tornar o texto redundante.
A sociedade americana, embora tenha seus conflitos gravíssimos e a pena de morte é dos exemplos mais extremos, parece que consegue resolver muito melhor seu problema com os homens que saem da prisão. Os homens que saem da prisão não são menos ou diferentes dos demais homens existentes.
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Luiz Mendes
12/05/2010.