por Luiz Alberto Mendes

Especial para o site

Há um sentimento cuja expressão sorri como flores soltas na natureza. É quase palpável como um fruto macio e redondo, mas que flui em flocos suaves de algodão-doce. Obcecado, nos absorve inteiramente, como o vôo concentrado de pássaros. Sob sua ação e influência, somos quais esses ventos alongados que se abatem sobre as praias, penteando cabelos e voando guarda-sóis.

As palavras soam frágeis diante sua pujança e inquietude. Somos dominados em sua onda sem conseguir contê-la, tal qual o habitante do agreste quando vê a chuva cair, sabendo que continuará com sede. Não há como armazenar, controlar, posto que ela está a favor da vida e não de nós. Só é possível reprimir. Mas então tal potência abrirá frentes em outros açudes onde, por certo, haverá que inundar e extrapolar. O mais coerente é vivê-la imensa e intensamente, dentro dos parâmetros do amor e do respeito por si mesmo.

Não está no tempo, no espaço, nas coisas, ou apenas nas pessoas. Está na vida. Em tudo o que vive e respira. É um princípio básico da formação de todas as vidas, da pedra ao homem, que a tudo precede em surda pegada. Está no feio ao se tornar belo, na beleza que nasce antes dos olhos e que estará mesmo que todos os corações se dilacerem.

Está no segredo universal de que é preciso dois para fazer um; e que de um a um nos fazemos muitos, infindáveis. Na perpetuidade de nossas vidas nas outras vidas, seja bicho, seja planta ou seja gente. Em cristais, corais e âmbares. Na chuva transpassada pelos néons ou na praia que abraça o mar.

Está dentro do amor, esse sentimento maior, embora se misture e nos confunda em seu interior. Está nas mais belas expressões artísticas das cores, dos mármores e das tintas gráficas. Manifesta-se em sensações as mais diversas possíveis, numa sempre presente sensação de se estar caindo sem jamais chegar ao chão.

Palidamente, tentamos expressar o que pensamos conhecer através seus diversos nomes. Tesão, excitação, desejo. Tudo o que conseguimos saber é que nunca estamos satisfeitos quanto à forma e, sobretudo, acerca do conteúdo. Entretanto, sabemos em nossos corações que tudo pode ser muito melhor do que conseguimos. Melhor ainda, que depende exclusivamente de nós ampliarmos e expandirmos nosso grau de satisfação.

Tudo pode ser tão complexo que as centenas de milhares de livros, compêndios e textos publicados sobre o tema, ainda apenas levantaram a cortina de sua magnitude. Mas, assim como a vergonha é vermelha e a noite escura, a vida é mais clara quanto mais simples se a encaramos.

Quando o sol ao longe se esconde além do horizonte, e a tarde enche de silêncio as horas, é tempo em que a carne viva desperta e grita por dentro sua insaciedade. Então só nos resta satisfazer, e todos os questionamentos tornam-se vãos, como vãs são as palavras diante da realidade.

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