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Trip / Surf / Surf

por Totó

Os protagonistas das maiores disputas a bordo de uma prancha na atualidade atendem pelos nomes de Kai Lenny e Connor Baxter

Um é moreno de estatura mediana, corpo atarracado, feição e descendência tipicamente havaiana. Caracterizado pelo estilo diferenciado, bonito de ver, e pela predileção por grandes alturas e emoções.

O outro lembra o típico cidadão norte americano.  Alto e espichado,  magrelo, seu estilo não é tão bonito quanto o do primeiro,  mas a sua técnica eficaz, sua frieza e suas conquistas saltam aos olhos e despertam a atenção do mundo.

Ambos são ícones de uma geração e arrebatam admiradores fiéis nos em tudo quanto é canto. Sem contar que seu duelos são sempre equilibrados e deixam qualquer favoritismo a margem.

Poderia facilmente estar me referindo aos embates históricos entre os skatistas Cristian Hosoi e Tony  Hawk, protagonistas dos maiores duelos no half-pipe na fase mais popular do skate na década de 80, e considerados  até hoje as maiores lendas vivas do esporte. Para você ter ideia, em 1986 Cristian já registrava aéreos acima de 10 pés enquanto Tony Hawk aprendia novas manobras em escala industrial.

Era a disputa do estilo contra a técnica e assim as coisas são até hoje.

Mas não é extamente deles que estamos falando.

Os protagonistas das maiores disputas a bordo de uma prancha na atualidade atendem pelos nomes de Kai Lenny e Connor Baxter, respectivamente.

Ambos vivem na paradisíaca ilha de Maui, no Hawaii, e desde muito cedo começaram a se destacar nos esportes de prancha e de água: windsurf; kitesurf; tow-in; shortboard; stand-up paddle surf e stand-up paddle race são suas principais modalidades. Mas  foi no SUP Race que as disputas tomaram forma, ganharam força e conquistaram fãs ao redor do planeta.

Kai Lenny é o mestre do estilo. Big rider nato, sua predileção pelo surfe e pelas ondas grandes consolidaram sua carreira não só pelos títulos mundiais que conquistou no SUP Wave, modalidade em que Kai é tricampeão mundial e 1 vez vice (desde que o circuito começou a ser realizado em 2010, foi derrotado apenas pelo brasileiro Leco Salazar, em 2012). Ele também conquistou reconhecimento por performances incríveis a bordo de um prancha de stand-up paddle em picos que até então eram considerados pouco prováveis, como Teahupo, Pipeline e Jaws - só para citar os mais conhecidos - dropando e entubando com um SUP,  ondas insanas acima de 10 pés.

Connor Baxter é o que podemos chamar de ‘’filho do vento’’. Filho de velejadores, seu pai foi campeão mundial de hobbie cat e sua mãe foi uma exímia windsurfer.

Com 9 anos estreou no Circuito Mundial de Windsurf PWE e com 14 fez a primeira queda - de wind - em Jaws, quintal de sua casa.  

Porém a fama mundial veio um pouco depois acompanhada da crescente popularidade do Sup Race, modalidade em que Connor reinou soberano durante dois ou três anos ininterruptos tendo conquistado absolutamente tudo o que era colocado em disputa. Tricampeão e recordista das travessias Maui-Molokai (28 milhas náuticas) e da temida Molokai-Oahu (32 milhas),protagonizou disputas com o experiente waterman havaiano Dave Kalama, quando entraram para a história estabelecendo novos recordes a cada ano e modificando os parâmetros do esporte.

Connor consolidou seus feitos nas  regatas e travessias de mar aberto e também nas provas em águas abrigadas, se tornando em 2012 o melhor remador de SUP do mundo. 

Diga-se de passagem,  Baxter e Kai também encaram o surfe na remada em ondas como Mavericks e Jaws quando ultrapassam a casa dos 25 pés.

Não vou me prolongar, pois os garotos, apesar da pouca idade, já rendem biografias dignas de um livro gordo.

O que nos interessa aqui é a rivalidade, dentro d’agua é claro - pois fora d’agua são amigos. E apesar do alto grau de profissionalismo atingido, ainda enxergam a diversão como principal componente.   

E o que pouca gente sabe é que os dois tem influências bem brasileiras por trás de suas performances.

Kai Lenny é ‘cria’ de Yuri Soledade, big rider soteropolitano residente em Maui e membro da respeitada crew Mad Dogs, responsável por desvirginar a temida onda de Jaws na remada, e precursores de mais uma revolução dentro do surfe de ondas grandes.  Seu coatch no brasil é Alessandro Matero, o Amendoim, pioneiro do SUP e embaixador brasileiro das travessias oceânicas entre ilhas no Hawaii.

 

Connor tem como mentor no SUP Race e principal parceiro de treino, o pernambucano também residente em Maui, Livio Menelau.

Se você nunca ouvir falar sobre Livio (prometo escrever sobre a turma de Maui em breve), seguramente é um dos cinco melhores do mundo na arte do downwind com o SUP.

Voltando pra questão da rivalidade, em 2013, no ano em que Connor baixou a guarda, Kai se focou nas provas de remada e trouxe, numa só tacada, os títulos mundiais de Race e Wave, se tornando pela primeira vez campeão mundial overall de SUP.

Como recompensa, ganhou um contrato gordo com uma das maiores multinacionais da área de confeção e material esportivo deste segmento prometendo além de grana e visibilidade, suporte para novos desafios e conquistas.

Conhecendo a veia super competitiva de  Connor, acredito que não deixará barato e nesse exato momento deve estar treinando muito forte afim de recuperar o que lhe pertenceu, ou seja, o título de melhor remador do mundo.

Com a morte de Andy Irons e a consequente soberania de Kelly Slater, o circuito mundial de surf perdeu um pouco da graça nesse quesito. Mas acreditem, não estamos órfãos. Alguns surfistas bitolados podem até me execrar, mas as maiores disputas dentro d’agua nesse ano estarão polarizadas entre essas duas jovens ex-promessas. Fiquem de olho.

(Colaborou: Fernando Bonfá)

 

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