Estou gostando do Big Brother

Acompanhar o programa é um aprendizado sobre o comportamento humano

Caro Paulo,

Estou gostando de acompanhar o Big Brother 5. E tenho aprendido muito sobre o comportamento humano num ambiente onde a transparência não é uma opção, mas uma característica do cenário. Fiquei impressionado com a ingenuidade do médico que lutou pelo prêmio de um milhão de reais sem considerar que o povo estava vendo tudo. Inteligente, articulado e ingênuo. Resultado: rejeitado com 92% dos 31 milhões de ligações que o povo fez para o programa.

A mesma ingenuidade derrubou toda a turma de jogadores que o doutor liderava. Não vou entrar no mérito do caráter de cada um porque não acredito que as pessoas possam ser divididas entre boas e más, além de eu não me achar em condições de julgar ninguém. Mas acho que podemos analisar o grau de maturidade das pessoas e a possibilidade de seu sucesso numa sociedade cada vez mais transparente.

Por isso falei de ingenuidade. Afinal, uma criança faz coisas erradas, como tirar sarro do defeito físico de alguém, e é perdoada porque não tem maldade. Ninguém diz que criança é ingênua. Ela é pura, ainda não descobriu o outro na vida. Quando o outro aparece, a gente deixa de ser criança, perde a pureza e entra na juventude. É a época dos conflitos. O mundo se divide entre amigos e inimigos. Estamos em permanente luta contra "eles". "Eles" podem ser os nossos pais, a turma da rua de baixo, as meninas, os meninos, os gays, os patrões, o governo, o país vizinho. "Eles" são todos que são diferentes de mim e que por isso mesmo me ameaçam.

Quando a gente é jovem, esse jeito de se relacionar com o mundo é natural porque é uma fase de aprendizado sobre a nossa identidade. A gente quebra a cara, ultrapassa limites, corre riscos que nem imagina porque ainda não conhece nada direito. Somos cheios de energia, mas somos ignorantes sobre a verdadeira dinâmica da vida. A maior parte dessa energia é gasta olhando para os outros, se aliando ou se protegendo, articulando, manipulando, controlando.

Na sociedade industrial, muitas pessoas passavam a vida toda com essa visão. Essas pessoas achavam normal o clima de guerra porque continuavam jovens, dividindo o mundo entre mocinhos e bandidos. Vide Bush filho - a melhor evidência da decadência dessa sociedade - e sua crescente impopularidade.

A gente vence essa fase jovem quando entende que a vida não é tão simples quanto dividir a humanidade entre bons e maus ou quando descobre que a manipulação tem vida curta e não constrói um ambiente seguro para se viver. É quando descobrimos que num mundo cada vez mais transparente o inteligente é cuidar da sua própria vida e se colocar como instrumento de paz.

Atuando assim não tem jeito de ficarmos mal na foto. E a chance de você ser admirado e ganhar até mais de um milhão de reais é muito grande. Gosto da Pinky, do Jean e da Grazi. Nenhum deles é ingênuo. São grandes jogadores e merecem ganhar o milhão, como exemplo para esse povo perdido entre as referências decadentes da sociedade industrial, certo doutor? Afinal, o mundo seria muito mais divertido e seguro com pessoas como eles, principalmente como a Grazi, minha favorita.

Ricardo.

Créditos

Imagem principal: Murillo Meirelles

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