por Redação

Expedição GaiaXpress percorreu os melhores picos do Chile em trinta dias

Nosso destino era o lugar "onde a terra acaba" - ou seja, "Chile" no dialeto aimará. O trajeto: saindo de Garopaba, em Santa Catarina, passando por Porto Alegre e cruzando o Uruguai para visitar Mendoza, Santiago, Iquique e Arica, no Chile.

Logo nos primeiros dias, a Expedição GaiaXpress Mormaii Mitsubishi se transformara na Casa dos Surfistas Brothers, já que a equipe, formada por 13 pessoas, teria que viver em quatro caminhonetes Mitsubishi L200, cada uma com um jet ski no reboque e um mostruário de sessenta pranchas, seis skates, três snowboards, uma asa-delta, um foil board e um kite surf, além de toda a bagagem.

Mais do que 30 dias atrás de ondas, o objetivo da expedição era interagir com a natureza praticando esportes em lugares inóspitos, em busca de equilíbrio emocional, tranqüilidade e maturidade.

Com a notícia da chegada de um swell de até 15 pés ao norte do Chile, não hesitamos em seguir rumo às ondas de El Gringo e El Buey, em Arica. Até lá teríamos que queimar 2 300 km de asfalto pela Avenida Pan-americana, rodovia que percorre o país por mais de 3 600 km.

Timing perfeito

No caminho, paramos em Iquique, onde estão umas das mais perfeitas ondas do país. Estávamos na cidade na mesma semana do Campeonato Internacional de Surf e decidimos inscrever alguns de nossos atletas dispostos a concorrer ao prêmio de US1000.

Saulo Lyra, Paulo Sefton e Evaristo "Kiko" Ferreira surfaram bem e garantiram uma vaga na final até uma zica acontecer: o primeiro "flat" depois de oito anos seguidos de ondas grandes deixou todos na mão, inclusive os organizadores do campeonato, que acabaram dividindo a premiação entre os atletas.

Com as pequenas "olas", resolvemos deixar o Pacífico e seguimos para as dunas de Yape, a 15 km do centro da cidade - um lugar ideal para o sandboard. Com pranchas perfeitas, um quadriciclo potente, um dos melhores profissionais de tow in - Romeu Bruno - e ainda muitos freqüentadores das dunas da Joaquina, em Floripa, criamos uma nova modalidade, o tow in de areia.

A briga agora era para ver quem descia mais vezes as dunas, iluminadas ao mesmo tempo por um pôr-do-sol alucinante e por uma lua cheia que chegava de mansinho detrás das montanhas. Foi lá que o campeão mundial de asa-delta Betinho Schmitz montou equipamento e decolou, criando um dos momentos mais emocionantes da viagem. Inesquecível.

Como as ondas insistiam em não aparecer, uma parte da expedição decidiu entrar no ventre do deserto e seguir a San Pedro de Atacama, um povoado situado 498 km ao sul de Iquique. Foi uma decisão certa, já que estávamos perto do paraíso e não sabíamos. Ruas estreitas de terra vermelha, casas rústicas de barro e feições indígenas caracterizam o lugar. O contraste "dramático" das montanhas de neve, do verde da vegetação e do azul das águas, deixou-nos extasiados, tamanha beleza que a natureza nos oferecia naquele momento.

De volta a Iquique para reencontrar o resto da equipe, partimos rumo a Arica, a 300 km dali e a 2 062 km da capital Santiago. No caminho, não resistimos ao visual e colocamos os skates long boards em plena rodovia Pan-americana. Foram 9 km de descida em curvas sinuosas, monitoradas pelo rádio dos carros - um momento memorável para os surfistas que pareciam meninos com o primeiro carrinho.

Não entrou água

Chegamos a Arica e fomos direto para o pico de El Gringo para checar as ondas. Lá, o vento terral permanece só até umas dez da manhã, o que fazia com que o mar subisse bastante pela manhã, chegando a oito pés, baixasse com a chegada do vento maral e subisse novamente no meio da tarde. Mas as ondas não cresceram como a internet previu, e El Buey não teve forças para mostrar sua cara. Mesmo assim, fizemos o inédito: colocamos os jet skis no outside e ensaiamos um tow in em ondas de 9 pés praticamente na beira da praia.

El Gringo - que leva esse nome por ter sido surfada pela primeira vez por dois estrangeiros - é perigosa por seu fundo de pedras, por sua baixa temperatura e por sua proximidade com a praia. Em compensação, tem ondas definidas. A esquerda é bem tubular e fica perfeita quando a maré seca começa a encher. As pedras ficam praticamente expostas e a onda mais curta, dificultando as manobras. A direita também tem seus dias, principalmente com um swell de norte, que deixa as ondas mais longas e manobráveis.

Os dez dias em que estivemos em Arica nos proporcionaram doze horas por dia de ótimas ondas, céu azul, alto-astral e muita hospitalidade. Mas chegava a hora de levar o circo embora. Estávamos viajando havia vinte e poucos dias e tínhamos muita estrada pela frente. Como despedida resolvi encarar a água gelada do Chile e me atirar de cabeça nas ondas de El Gringo puxada por um dos jet skis - uma experiência única.

*Juliana Morais, 24, é repórter e fotógrafa. Era a única representante do sexo feminino na trupe.

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