A realidade, às vezes, não passa de sinais e pulsos elétricos que o cérebro recepta e nós interpretamos. Já a esperança vem de espera; de uma espera que se alonga infinitamente. É nossa maior grandeza e incentivo, mas ao mesmo tempo é nossa maior derrota porque não há certezas. Não há certeza do tempo que poderá ocorrer e nem de que irá acontecer de fato. A vontade é imperativa, mas existem as contingências que criam obstáculos às vezes intransponíveis. Claro que podemos contorná-los e então ultrapassá-los; o gênio humano é impossível de ser medido.
A esperança esta embasada na confiança de que o mundo e o homem são bons e que podemos esperar o melhor deles. E hoje estamos cientes de que nem o mundo ou o homem são bons ou maus. Nada é; tudo flui e vai sendo no tempo. A conotação moral ou ética é inteiramente cultural e exclusividade nossa. Nós acreditamos que carecemos de enraizamento, de pertencer a algo. E vivemos a ilusão (ou a esperança) de que existe a possibilidade de encontrarmos alguma coisa na vida que nos dê uma base "segura", "boa", para desenvolvermos nossa existência. O século passado desvendou muitas coisas que batem de frente com essas nossas certezas. Uma delas é de que nada é para sempre; tudo se transforma, muda e segue em frente. Tem outra que nem todos concordam: nossas atitudes gritam nossa verdade: estamos atirados no mundo e sem controle. O hábito, o costume, a tradição não são mais que cobertores anestesiantes ao gelo de nossa ignorância.
Esperança infere futuro. E futuro é algo que nem existe; passado, presente e futuro são divisões culturais inventadas pelo homem para poder analisar por partes e chegar ao todo. Mas ficamos apenas nas divisões, talvez seja uma fase do conhecimento humano que ultrapassaremos. O tempo e seu fluir é mistério apenas sondável, embora as conclusões matemáticas de Einstein e outros cientistas. Mas é inegável que, se ainda não existe o que virá a ser, algo virá a ser mesmo assim; é inteiramente possível que o tempo não acabe. A física quântica é surpreendente e talvez seja o caminho para essas compreensões acerca do tempo. O que dá certa tranquilidade porque nós ainda não exploramos todos os possíveis se não tentarmos o que nos parece impossível.
Nós carecemos do que fazemos e criamos; somos dependentes de nosso feitos. As máquinas, por exemplo: não vivemos mais sem elas, somos dependentes delas. Por enquanto acho que só nos resta viver a realidade que criamos e buscar fazer do presente uma esperança para o futuro, já que tudo indica que o futuro (se existir) seja o desenvolvimento do que já existiu e do que já existe.
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Luiz Mendes
22/04/2014.