Conheça o mundo da taxidermia - que serviu de cenário para o ensaio de moda da edição
Desculpe dizer, mas, apesar do nome, não é palha que vai dentro de um animal empalhado. Conheça o mundo da taxidermia – que serviu de cenário para o ensaio de moda da edição #212 da Trip
Um amedrontador tigre repousa deitado no canto da sala do empresário Facundo Guerra, como se observasse, impávido, os modelos e a equipe do nosso ensaio de moda. Em outra parte da casa, enrolada em pedaços de madeira presos à parede, está uma cobra consideravelmente grande. E não longe dali descansa um colorido faisão rodeado por outras aves. Ao todo, espalhados por sua residência e por seus negócios em São Paulo, são cerca de 40 bichos. Todos empalhados.
Pode-se dizer, por isso, que Facundo é um espécime raro no Brasil. Afinal, por aqui é quase nulo o mercado desse tipo de produto. “As pessoas ainda olham pra isso como se fosse algo mórbido. Pensam: ‘coitado do bichinho’. Acho que é um olhar ignorante, eu prefiro uma taxidermia a qualquer obra de arte”, diz. “Não vejo nada de morbidez, é eternizar a estética de um animal que, caso contrário, seria tragado pela terra. O taxidermista, antes de mais nada, tem que ser um escultor. É uma forma de arte muito refinada. No exterior tem cursos disso. Aliás, acho que aqui tem também.”
Facundo está certo. Apesar do mercado ainda pequeno, no Brasil existem cursos para aprender a técnica. “Somos muito procurados”, diz Emerson Boaventura, professor há 18 anos. “Entre 80 e 100 pessoas por mês”, contabiliza – e logo começa a dar uma breve aula também para este repórter. “Existem dois tipos de taxidermia, a científica e a artística. A primeira existe há muito mais tempo. Antigamente era feita com arame e palha, daí o termo ‘empalhado’. Só que não tinha tanta fidelidade à anatomia corpórea do bicho.” Mas agora já existem técnicas mais aprimoradas. A palha ficou no passado, há tempos são moldes de gesso e fibra de vidro, por exemplo, que dão formato à pele do animal.
Não silvestre
Se você se animou com a ideia de ter um bicho empalhado e já está tirando o pó da espingarda, calma. Por lei, os animais silvestres da fauna brasileira não podem ser abatidos nem taxidermizados. “Se o cara encontra uma onça morta na fazenda dele e quer embalsamar, nós não podemos de maneira alguma fazer”, avisa Emerson. “Só é permitida para projetos científicos de pesquisa.” Por isso, a maioria dos bichos vem do exterior. E muitos deles vão parar nas mãos de Fernando Chiavenato.
Há 16 anos ele trabalha eternizando a imagem de animais. “Ano passado fiz uma média de 20 por mês. Chega muita coisa da África, o que mais faço é o impala.” Vários dos adornos na casa de Facundo Guerra, inclusive, são dele. Além dos exóticos, Fernando também tem empalhado muitos bichos de estimação, como cachorros e gatos. Cobra cerca de R$ 4.000 para um cão de grande porte. Parece muito? “Ganho três vezes menos que um americano, aqui ainda não tem muito mercado. Nem loja existe no Brasil. As que havia foram alvos de passeatas e protestos e fecharam.”