Não estamos mais presos a regras, critérios e cânones como no passado. Assim como estamos cientes de que não somos capazes de direcionar o futuro como queríamos
O tempo tem que ser o senhor de nossos destinos, ou nós temos (ou teremos) autonomia e liberdade para determinarmos o tempo e, portanto, sermos nós mesmos os donos de nossos destinos?
O pós-modernismo postula que passado inexiste. Passou, portanto, deixou de ter existência real. O futuro, para essa escola de pensamento, é uma incógnita cuja existência depende e é relativa ao presente. Logo, de real só existe mesmo o presente e mais nada. Partem desse raciocínio, supervalorizando a vida atual tal qual é, quebrando séculos de predomínio do passado e do futuro sobre nossos destinos. É, sem dúvida, um avanço enorme em termos de desenvolvimento do pensamento humano. Autonomia para exercer nossas vidas durante nosso tempo, discutindo e escolhendo o que ele nos propõe.
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Por outro lado, caso venhamos a refletir sobre essa mesma assertiva, vamos ter dificuldades para encontrar coerência. Porque, se o presente vem do passado, ele ainda é do mesmo material que compõe significativa parte do passado. Assim como características físicas dos pais sobrevivem nos filhos, o presente é oriundo e impossível de ser desvinculado do passado porque perderia sequência e sentido. As raízes do presente estão no passado, assim como as sementes que habitam os frutos estão no futuro, se tivermos uma árvore por perspectiva. O presente é o corpo e conteúdo da árvore, seu conceito, sua existência. Além das raízes e frutos; suas flores tão rápidas e sem tempo, sua folhagem densa, composta de milhares de folhas, seu caule, seus veios tão ricos de seiva...
Estamos diante de um dilema. Claro que precisamos pensar no presente, vencer velhas tradições, valores, preconceitos e costumes ultrapassados. Eles atravancam e obstruem a fluência de nosso presente. A genética, a tecnologia das células-tronco, a nanotecnologia, a neurociência e a robótica nos prometem conhecimentos e desenvolvimentos além do imaginável para o futuro.
Parece mesmo que o futuro vai ser muito mais interessante de ser vivido que o presente. A nossa comunicabilidade está promovendo o maior movimento de interconectividade jamais conhecido. Grandes conhecimentos, ideias e combinações estão sendo trocados a cada décimo de milésimo de segundo. Tudo o que for conhecido, sabido e confirmado será ultrapassado e trocado irreversivelmente. Tudo é relativo ao tempo/espaço e não existe tempo nem espaço parados no universo (Einstein afirmava que o mundo ainda estava sendo construído). Tudo se movimenta, se transforma e segue em frente. E isso tudo tem história, linha de tempo e, principalmente, passado.
Sem direção
Voltando à discussão sobre a inexistência de passado e futuro, não existe possibilidade de crescimento e desenvolvimento sem que haja planejamento. E planejamento só cabe no passado. E depois, planejar o que, caso não existisse futuro? Creio que os pós-modernistas se referem ao fim do passado e do futuro como entidades determinantes do presente. Não estamos mais presos a regras, critérios e cânones como no passado.
Assim como estamos cientes de que não somos capazes de direcionar o futuro como queríamos. Não estamos mais presos a uma destinação; ao tempo em que ainda não somos senhores de nossos destinos. As escolhas e as decisões são sempre atos do presente, tendo o passado como referência e o futuro como alvo incerto.
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