Isso é uma vergonha

Entrevistamos o jornalista Boris Casoy para descobrir qual vergonha deu origem a um dos bordões mais famosos da televisão brasileira

"Isso é uma vergonha. Isso é uma vergonha. Isso é uma vergonha." Foi assim, em dose tripla, que o famoso bordão surgiu, em 1988, pouco depois de seu criador, Boris Casoy, ter trocado os jornais impressos pela televisão. Como apresentador do TJ Brasil, no SBT, também ajudou a introduzir o comentário no jornalismo brasileiro. "Naquela época não havia opinião, era uma novidade", lembra. No papo a seguir, por telefone, Casoy conta a história da expressão mais célebre (e intensa) de nosso telejornalismo.

Lembra da primeira vez que falou "Isso é uma vergonha"? Foi no começo do Telejornal Brasil, no SBT. Foi exibida uma reportagem sobre um hospital no Recife. Era um pronto-socorro fétido, daqueles horrorosos, com pessoas pelo chão, uma coisa de filme de terror. Enquanto a matéria era transmitida, fiquei meditando. Lembrei de uma pequena emissora americana que, quando o Kennedy foi assassinado, parou suas transmissões e colocou em letras garrafais: shame (vergonha). Eu me lembrei disso e, quando a câmera abriu para mim, eu disse: "Isso é um vergonha", três vezes. Foi um impulso.

E o que aconteceu? As pessoas que dirigiam o jornal disseram que tinha sido uma agressão ao telespectador. Mas o telefone não parava, as pessoas dizendo: "O senhor soltou o grito que estava na minha garganta".

Como decide quando usar? Não uso para questões morais. É sempre sob o aspecto da indignação. Esse "é uma vergonha" tem uma relação direta com a indignação. Decido colocar quando sinto isso.

Quais as coisas mais vergonhosas que já noticiou? São tantas que tenho medo de omitir algumas [risos].

Ainda temos muitas coisas pra nos envergonhar? Eu acho que, infelizmente, o bordão não vai acabar. Quando eu paro, recebo e-mail, telefonema de alguém reclamando que não falo mais. Quer dizer, a expressão, nesses 20 e poucos anos de televisão, não perdeu força.

E na vida pessoal, já passou vergonhas? Claro, eu sou um ser humano. Até na televisão, claro que sim.

E qual foi a maior? Ah, também não quero mencionar [risos].

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