Em busca do Fusca do Maluf

por João Cezar Borges
Trip #211

Pérola da política brasileira, o último dos Volks dados à seleção tricampeã ainda vive

Pérola da enciclopédia de escândalos políticos brasileiros, o último dos Volks dados à seleção tricampeã ainda vive no Fuscão 1967 do lateral direito Zé Maria

O primeiro escândalo a gente nunca esquece: entusiasmado com a vitória da seleção brasileira na Copa do Mundo no México, em 1970, o então prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, distribuiu 25 Fuscas verdes aos jogadores. Mais de 40 anos depois, quase nada restou dos presentes. Quase: algumas peças sobrevivem em outro Fusca, um modelo 1967 azul-piscina, do ex-lateral direito Zé Maria, reserva de Carlos Alberto Torres na equipe tricampeã.

As peças foram resgatadas depois de o carro capotar na rodovia Anhanguera, perto de Jundiaí (SP), com seu irmão, Tuta, ex-ponta de Corinthians e Ponte Preta. “Fiquei uma fera. O carro estava novinho e meu irmão destruiu ele todo!” Um mecânico de Limeira “transplantou” as peças para o Fusca 1967. “Tô com ele até hoje, é opção para o rodízio. Não tem carro mais econômico.”

Nem todos os jogadores ficaram com o carro. Piazza, zagueiro improvisado na competição, deu como parte na compra de um posto de gasolina. Dadá Maravilha embolsou a grana. “Para que ficar com ele se eu tenho mais troféus do que glóbulos vermelhos e brancos juntos?”, zombou na época. O capitão Carlos Alberto Torres o manteve por cinco anos. “Eu não tinha como comprar um carro zero”, lembra.

Em 1995, uma ação popular exigiu que Maluf restituísse o dinheiro. Houve sentença parcial do Supremo Tribunal Federal exigindo a devolução, mas, muitos recursos depois, o próprio STF absolveu o político em 1995. “Eu era jovem, não percebi, como perceberia depois, que era abuso de dinheiro público”, diz Tostão. O assunto ainda incomoda outros jogadores. “Na época em que Maluf deu os carros, ninguém questionou. Fizemos a alegria do país todo, depois disseram que a gente não merecia”, afirma Carlos Alberto. Como se vê, os Fuscas se foram, mas a polêmica persiste.



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