Em entrevista, Guilly Brandão, campeão mundial da categoria wave, explica porque podemos esperar muitas glórias no kitesurf
Guilherme “Guilly” Brandão tem 25 anos e muita história para contar. O menino que dava aulas de kitesurf na Ilhabela também surfa, tem uma intimidade invejável com pranchas de todos os tipos e virou ícone dos velejadores no Brasil.
Vencedor da etapa mundial e dono de três campeonatos nacionais, Guilly está muito próximo do bicampeonato brasileiro da categoria Wave e segue vivo na disputa pelo tetra no Freestyle – a etapa final será no Rio de Janeiro, entre 2 e 5 de novembro, no quintal de seu maior rival na modalidade: Reno Romeu, de apenas 16 anos.
Depois de abocanhar a penúltima etapa de Wave do Oi Kitesurf e amargar a segunda colocação no Freestyle, Guilly conversou com a Trip debaixo de muito vento, nas areias da Praia do Coqueiro, no Piauí.
Por que o kitesurf é um dos esportes que mais cresce atualmente?
O esporte já nasceu profissionalizado. Comigo as coisas aconteceram muito rápido, quando fui ver já estava no circuito mundial. A popularidade está no fato de que as pessoas que praticam wake, surf, para-pente ou wind se interessam pelo kite. Ele é prático e mistura todos estes esportes.
É verdade que temos o maior circuito nacional do mundo, com a maior premiação, número de etapas e melhor infra-estrutura?
Sim. Quando fui para o mundial em Tarifa, acompanhei o campeonato espanhol. É muito pequeno. A premiação é pouca e a infra-estrutura não se compara ao que temos por aqui. E olha que eles estão entre os melhores do mundo.
Vem muito gringo treinar no Nordeste. O que eles acham daqui?
Eles adoram. Aqui as condições são ideais e ainda tem calor, festa e água quente. Sem falar que eles gastam em real.
Onde são os melhores lugares para praticar kitesurf no Brasil?
De João Pessoa para cima temos condições ideais. Existe um lugar a 15 minutos da Praia da Pipa [Rio Grande do Norte], chamado Barra do Cunhaú. A água é lisa e o vento é perfeito. Um dos melhores lugares.
Tem localismo no kite?
Não. Isso não existe por que é muito chato praticar sozinho. Crowd não atrapalha.
E o Brasil tem chances de ganhar o circuito mundial?
Sim, temos grandes possibilidades de ser o número um. Temos garra e boas condições de treino.
Mas esse título vem antes do título mundial de surfe?
Acho que está pau a pau. Essa nova geração do surfe, com Mineirinho e companhia, é muito boa. Não tem como garantir quem leva antes.
Você foi destaque de capa da revista Kiteworld. Como aconteceu?
Fizemos uma expedição para as Ilhas Maurício. Lá, peguei um puta tubo e aconteceu de ser o maior tubo de kite já filmado.
Mas como é surfar de kite?
O kitesurf tem algumas modalidades. O freestyle é a principal delas, mas a categoria wave [fazer manobras na onda com a ajuda do kite] está se desenvolvendo muito. A tendência é massificar para o wave, tem mais sobrevida e não é tão agressivo. Como já estou com 25 anos, meu foco é esta categoria. A média de idade do freestyle está caindo muito. Quem compete no freestyle hoje tem 12, 14 anos. No freestyle quanto mais leve melhor e os mais novos tem uma recuperação bem melhor. A modalidade exige muito do corpo.
Já praticou snowkite ou kiteskate?
Fui dublê de kiteskate para uma propaganda da Goodyear. Era uma grana boa e eu logo topei, mesmo sem ter praticado. Fiz uns treinos e quase me arrebentei, mas deu tudo certo no final.
Já tinha algum contato com skate?
Isso foi foda. Eu era meio maluco. Peguei um skatinho e comecei a ser puxado por um carro, segurando na janela. O carro subia numa puta velocidade e eu me lançava na descida. Uma vez pedi para brecar e já era tarde demais. Eu caí, o carro passou por cima da minha perna e por sorte eu me segurei com o cotovelo e não entrei debaixo do carro. Foi traumatizante, me arrebentei.
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Imagem principal: Maurício Val/fotocom.net