E os baianos que pagam o pato!

por Luiz Alberto Mendes

Por que toda essa truculência, esse desespero que ameaça toda a população de um Estado

Estive em Salvador em outubro do ano passado. Estava apaixonado pela cidade e pelas pessoas. Por conta disso meu olhar era terno. Havia um carinho na ponta dos olhos. Daí porque o contraste chocou. Estava no ponto com uma amiga atriz, junto com várias outras pessoas, esperando ônibus. Do nada, surgidos das sombras, dois camburões apareceram. Homens vestidos e armados para a guerra, parecendo o robocop do filme, desceram afoitos com fuzis embalados apontando para todo mundo ao redor.

A maioria das pessoas no ponto do ônibus saiu andando rápido ou correndo já, apavorados. Inclusive a amiga residente que saiu se desculpando dizendo não gostar de violência. Fiquei sozinho no ponto. Estava tão indignado com aquilo tudo que não senti medo. Acho que por isso eles não se incomodaram comigo. Passaram por mim apontando aqueles paus de fogo e foram intimar rapazes na porta de uma padaria.

A abordagem foi extrema. Sobrou rasteira, chute, coronhada e porrada para os jovens. Só faltaram tiros. E acho que foi isso que fez o povo do ponto do ônibus correr. Medo de bala perdida, provavelmente. As fardas eram de combate. Havia uma arma enorme nas mãos, outra atravessada no peito e uma na cintura. Vários pentes de balas distribuídos no cinturão. Nem o BOPE no Rio usam todo aquele equipamento de guerra.

Fiquei muito impressionado com o que vi. Realmente é necessário todo aquele aparato bélico para lidar com a população? Achei que aquilo não podia dar certo. Conheço de armas. Elas modificam pessoas. Pouquíssimas pessoas têm o equilíbrio necessário para portar uma arma. Mas, fazer o que? Olhar e passar.

E agora veja no que foi dar. Pense o perigo de tantas pessoas armadas até os dentes, revoltadas e com os nervos saltando da pele. O número de homicídios, arrastões, saques e abusos dobra a cada dia de greve. Existe já sérias desconfiança de que há pessoas no movimento parentista matando moradores de rua de Salvador para fazer  pressão contra o Governo. Oito moradores de rua foram assassinados numa noite de greve...

Os acordos não acontecem e com isso o povo vai passando apertado. As autoridades (dos dois lados) cujos salários são pagos pelos impostos que oneram a população, brigam entre si e todos na cidade sofrem as consequências. Não é um absurdo? Tem helicópteros rondando e cerca de dois mil homens do exército em Salvador. Uma quantidade enorme de recursos que poderiam ser utilizados em benefício público, assim despejados pelo ralo.

Claro, todas as classes sociais devem reivindicar seus direitos e a greve é um meio legítimo de luta. Mas por que toda essa truculência, esse desespero que ameaça toda a população de um Estado? Provavelmente seja o poder. Talvez haja poder em demasia concentrado nas mãos de pessoas não capacitadas para exercê-lo.

Isso ainda é ranço da Ditadura em nosso país. Os militares dominavam o país através do poder que dotaram a polícia. Um plano engenhoso que deu certo por quase duas décadas. Uma polícia mais pronta para sufocar movimentos sociais (vide greves do ABC) do que combater bandidos.

E agora, como faremos para pacificar aquele povo todo com todas aquelas armas nas mãos, hem? E depois?

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Luiz Mendes

08/02/2012

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