O diplomata que confrontou o projeto de poder dos EUA

José Maurício Bustani viveu o poder pelo lado de dentro – e ousou enfrentá-lo. Primeiro Diretor-Geral da Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ), o diplomata brasileiro desafiou a guerra ao terror dos Estados Unidos e colocou em xeque o pretexto de uma das decisões políticas mais desastrosas da história recente: a invasão do Iraque, que causou centenas de milhares de mortes de 2003 a 2010. “A estratégia dos EUA sempre foi a de derrubar governos e colocar no lugar regimes alinhados aos seus interesses, mas ela está mais perigosa”, afirma.

Nascido no território que hoje pertence a Porto Velho (RO), com raízes portuguesas, indígenas e libanesas, Bustani construiu uma carreira de 50 anos na diplomacia, com passagens por Moscou, Viena, Nova York, Montreal e Paris. No episódio de Trip FM especialmente gravado no Festival Path, ele contou a Paulo Lima sobre o preço que pagou por defender a verdade e relembrou sua destituição da OPAQ sob pressão do governo Bush, justamente quando suas negociações com o Iraque para o desarmamento químico avançavam. “Combinaram com o governo brasileiro a minha derrubada, sem que eu soubesse”, disse. “Quando eu voltei à Brasília, me disseram: no governo Fernando Henrique Cardoso você não terá mais nenhuma posição. Fiquei um ano desempregado.”

Numa aula de história e lucidez de quem segue acreditando que a paz vale mais que qualquer poder, ele reflete sobre o colapso da diplomacia internacional, a hegemonia norte-americana, a emergência dos BRICS como alternativa de poder e a esperança que ainda deposita na diplomacia e no ser humano: “A diplomacia está em crise, mas ainda é o melhor caminho – uma guerra feita por outros meios. É a única maneira de conviver internacionalmente.”

Você pode ouvir o programa no play nesta página, no Spotify, Deezer e no YouTube da Trip.

Ouça a entrevista no Spotify