O Paulo Ricardo que você não conhece
O cantor e compositor do RPM fala sobre o pai militar, a infância em Florianópolis, a carreira de jornalista, a visão madura sobre as drogas, a maturidade e os gibis do Homem-Aranha
Paulo Ricardo / Foto: Bella Pinheiro (@isabellapinheiro)
Por Redação
em 10 de outubro de 2025
“Viver de música no Brasil é um talento. Administrar a grana é outro. Eu não sou muito rico, nem torrei tudo. Eu trabalho porque amo e preciso. Mesmo que não precisasse, continuaria no palco. É ali que eu me sinto vivo”, diz Paulo Ricardo. No Trip FM, o cantor, compositor e músico que está rodando o Brasil com a turnê que celebra 40 anos de carreira relembra sua trajetória no rock nacional.
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“O RPM foi um fenômeno que nem a gente entendeu direito. Queríamos fazer uma banda legal, e de repente vendemos três milhões de discos num país que estava saindo da ditadura. Foi muita intensidade pra pouca idade. Banda é um casamento de quatro pessoas, só que sem sexo. É quase impossível dar certo”, disse o artista.
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No papo com Paulo Lima, ele também comenta os excessos da década de 1980. “Nossa geração não sabia o que estava fazendo em relação às drogas. Elas faziam parte de um cardápio da juventude. Hoje, eu não recomendo nem romantizo. Liberdade não é fazer tudo, é saber o que você não precisa fazer.”
Você pode ouvir o programa no play nesta página, no Spotify, Deezer e no YouTube da Trip. Confira um trechinho a seguir!

Você é filho de militar e viveu o final da ditadura. Como essa origem influenciou sua música e o nascimento do RPM?
Paulo Ricardo. Sou filho, neto e bisneto de militares, mas sempre questionei tudo. Cresci ouvindo meu pai chamar o golpe de 64 de “revolução” — e foi daí que veio o nome da banda, Revoluções por Minuto. Era uma forma de tomar de volta essa palavra que tinha sido sequestrada. Quando a música Revoluções por Minuto foi censurada, a gente percebeu o tamanho da contradição: vivíamos o fim da ditadura, mas ela ainda nos alcançava. A minha relação com os militares sempre foi afetiva, não política. Meu pai era engenheiro do Exército, construiu a ponte de Florianópolis. Mas eu cresci entendendo que ser livre era o contrário do que eu via em casa.
Você chegou a Londres como jornalista musical. Em que momento decidiu que não bastava mais escrever sobre música — era preciso viver dela? Quando eu trabalhava como jornalista da SomTrês, fui pra Londres entrevistar o Iron Maiden e assistir à estreia da turnê do Number of the Beast. Aquilo mudou tudo. Vi de perto a explosão do Duran Duran, do Clash, do pós-punk. Voltei com a certeza de que o Brasil precisava viver isso também. Foi quando começou a nascer o RPM.
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O RPM virou um fenômeno histórico. Como você enxerga aquele sucesso hoje? Em algum momento se cansa de falar dele? O RPM foi um fenômeno que nem a gente entendeu direito. A gente queria fazer uma banda legal, e de repente estávamos num país em transição política, com três milhões de discos vendidos. Foi muita intensidade pra pouca idade. Banda é um casamento de quatro pessoas — só que sem sexo. É quase impossível dar certo. Não dá pra ter tudo: intensidade e longevidade. Os Beatles não tiveram, a gente também não. Mas o que vivemos foi lindo. Hoje, cada show é um jeito de agradecer e honrar essa história. Eu me sinto mais sereno. Não preciso brigar com o meu passado. O RPM é um fantasma camarada — tipo um Gasparzinho.
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