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Ingrid Guimarães: ansiedade, menopausa e o tesão pelo corre

Da sensação de ser um patinho feio ao medo de envelhecer sem segurança, a atriz conta a trajetória de quem abriu caminho num território onde as mulheres só tinham espaço como coadjuvantes

A atriz, produtora e roteirista Ingrid Guimarães

Foto: Vinícius Mochizuki


Por Redação

em 26 de setembro de 2025

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“Quando comecei, não havia espaço para a mulher comediante, a não ser como coadjuvante de programas de homens. Sempre tive medo de envelhecer sem dinheiro, então guardei tudo o que pude para não precisar aceitar qualquer coisa”, afirma Ingrid Guimarães. No Trip FM, a atriz revela os bastidores de uma carreira que atravessa gerações. “Eu me achava um patinho feio. Anos depois percebi que quase todos os comediantes carregavam a mesma sensação de inadequação. Acho que a comédia nasce disso: transformar desgraça em graça. É uma forma de inteligência, uma maneira de achar o seu lugar no mundo”.

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Goiana de raízes libanesas, Ingrid virou referência do humor no país: mais de uma década em cartaz com “Cócegas”, que levou 800 mil pessoas ao teatro, o sucesso na TV com “Sob Nova Direção”, também ao lado de Heloísa Perissé, a explosão de “De Pernas pro Ar” no cinema e, antes disso, o fenômeno adolescente dos anos 90 em “Confissões de Adolescente”. “Às vezes tento explicar para minha filha o que foi essa febre. Se existisse Instagram naquela época, ninguém esqueceria. A gente era Beatles no teatro. Adolescentes dormiam na porta do hotel, invadiam quarto, teve sessão com risco de pisoteamento. Tivemos que sair escoltadas. Foi um fenômeno que nunca mais vivi.”

No papo com Paulo Lima, ela também fala sobre infância, reinvenção aos 50 anos e a luta histórica das mulheres por espaço na comédia.

Você pode ouvir o programa no play nesta página, no Spotify, Deezer e no YouTube da Trip. Confira um trechinho a seguir!

A atriz, produtora e roteirista Ingrid Guimarães / Foto: Vinícius Mochizuki

Em 2009, você falou em uma entrevista para Tpm sobre uma dificuldade de se encaixar na adolescência. Como foi isso?
Ingrid Guimarães.
Eu era muito, muito magra mesmo, tive muito problema de pele na adolescência e morava numa cidade onde as meninas eram muito tradicionais. Eu já me sentia mentalmente muito diferente daquelas pessoas. Ficava muito no closet da minha mãe, pegava as roupas, tinha um mundo interno muito poderoso. Sempre fui muito criativa, mas não me encaixava ali. Eu me achava um patinho feio. Anos depois, quando fiz Viver do Riso, percebi que todos os comediantes que entrevistei tinham em comum esse sentimento de inadequação. Acho que a comédia vem disso. Você escolhe usar o humor para sobreviver, para transformar a sua desgraça em graça. É uma forma de inteligência e de achar o seu lugar no mundo.

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Você viveu um sucesso muito grande com Confissões de Adolescente nos anos 90. Após essa febre, em algum momento você viveu a preocupação de ficar sem trabalho? Às vezes tento explicar para minha filha o que foi Confissões de Adolescente. Se existisse Instagram naquela época, ninguém esqueceria. Era uma febre. A gente era Beatles no teatro. Adolescentes dormiam na porta do hotel, invadiam quarto, teve sessão com risco de pisoteamento. Tivemos que sair escoltadas. Foi um fenômeno que nunca mais vivi. Eu sei que ser artista exige muito estômago. Sempre tive medo de envelhecer sem dinheiro, então guardei tudo o que pude para não precisar aceitar qualquer coisa. Quando comecei, não havia espaço para a mulher comediante, a não ser como coadjuvante de programas de homens. Nós nos fizemos no teatro. A independência financeira veio do palco, porque na novela a comediante não tinha espaço.

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Há algumas semanas a Maria Ribeiro esteve com a gente contando sobre como ela precisou assumir o papel da “mulher do corre” no trabalho. Você também se sente assim? O cinema para mim era um sonho distante. Desde cedo aprendi a me produzir para trabalhar. Sempre tive que correr atrás, pedir patrocínio, montar espetáculo. Foi cansativo, porque em reuniões sempre era interrompida, chamada de maluquinha, descredibilizada. Mas foi também a minha libertação. Hoje eu agradeço por ser a ‘mulher do corre’, porque a exaustão me trouxe independência.

Ouça a entrevista completa no Spotify

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