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Duas rodas tageadas

Motoboys de São Paulo alimentam desde 2007 um projeto que publica na internet em tempo real

Duas rodas tageadas

Por Cirilo Dias

em 23 de janeiro de 2009

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Em 2004, o artista plástico espanhol Antoni Abad comentou com Dona Regina Silveira que gostaria de fazer um trabalho com os motoboys de São Paulo, e que tinha 12 celulares para distribuir entre os motoqueiros. “No começo eu fiquei desconfiado, mas a Dona Regina, minha chefe, é uma pessoa séria, então eu saí avisando todos meus amigos que tinha um gringo que ia distribuir celulares com câmera pra gente registrar a cidade”, explica Ronaldo Simão da Costa (foto), o personagem principal e elo de ligação necessário para que o Canal Motoboy viesse à tona. Desde 2007, não são só os documentos que chegam rapidamente a seus destinos. Vídeos e fotos do caos que compõe a São Paulo diária vão a conhecimento instantâneo para quem estiver conectado.

Hoje com 35 anos, Ronaldo vive sobre duas rodas desde os 17, contrariando a estatística da CET de que dois motoboys morrem por dia em São Paulo. “Os que mais morrem hoje tem entre 18 e 23 anos, acham que são melhores que todo mundo. Eu já passei por isso, já caí, já aprontei e já passei dessa fase. Você vai ficando velho, tem filho, família, e fica mais responsável”, diz ele, que garante que não larga o guidom por nada. “Já me ofereceram trabalho para ser supervisor, com sala, ar-condicionado e tudo, mas eu gosto mesmo é da rua.” E foi a união do conhecimento das ruas de São Paulo com um celular com câmera e GPS que revolucionou a vida do motoboy e seus companheiros.

“Nossa profissão é indispensável, mas o pessoal ainda tem aquela visão negativa do motoqueiro”, afirma Ronaldo, que garante que o projeto está ajudando a mudar essa visão. “Antes a gente não tinha voz alguma na sociedade. Agora, quando eu vou numa emissora de TV ou jornal, as pessoas perguntam se eu vou fazer alguma entrega, e eu respondo que estou indo dar entrevista”. Mas quem vê o projeto dar certo, não imagina a dificuldade e o preconceito constante que a classe enfrenta. Ele explica que o projeto foi idealizado em 2004, mas só foi colocado em prática em 2007: “Toda vez que o Antoni falava que ia fazer um trabalho com motoboys, as empresas saiam fora, não queriam vincular a marca com a gente. Eles não entendem que com esse projeto, estamos prestando um serviço importante pra sociedade”.

A intimidade com softwares, imagens tageadas, tags e outros termos tecnológicos, por incrível que pareça, não vem do contato constante com computadores. Ronaldo teve que aprender na marra para levar o projeto em frente. “Teve gente que não entendeu muito bem o projeto, mas olha essa cidade de São Paulo. Aqui é muito louco, a cidade é incrível, tem muita coisa acontecendo, muita coisa para ser registrada”, diz o engajado motoqueiro que já coleciona mais de 2 mil fotos no site Zexe.net, onde todas as fotos do projeto Canal Motoboy estão armazenadas.

E no meio dessas milhares de fotos, qual a sua foto preferida? “Ah, da minha filha Fernanda, minha jóia de três aninhos. Entra lá no site e procura pela tag Minha Vida. Tem um monte de foto dela”, diz orgulhoso.

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