Duas histórias formadoras

por Luiz Alberto Mendes

 

                                REALIZAÇÕES

 

                        Há alguns anos, li uma poesia que me impressionou deveras. De alguma forma, sua mensagem falou pôr dentro das duras paredes que me cercavam. Dizia que passamos pelas ruas e não enxergávamos uma gota de orvalho que escorrega pôr uma folha de amoreira.

                        Queria dizer que vivíamos qual tivéssemos um tapa olhos que nos impedisse de olhar para os lados. Apressados olhando para frente, sem nos determos para contemplar as possíveis belezas que podem estar ao lado. Deste modo perdemos grande parte de nossas vidas. Se houvéssemos observado aquela gota, perceberíamos que o sol, ao tocá-la delicadamente, dividia suas cores qual um diamante natural.

                        Aquilo me ensinou que devemos estar atentos a tudo que nos cerca. Mesmo se perdemos a maior parte do que acontece, pela limitação de nossos sentidos, ainda assim valeria a pena. A riqueza de nossas vidas tem tudo a ver com o tamanho de nossa percepção da existência interior e exterior que nos cerca.

                        Em tudo há belezas a serem descobertas. Tudo tem algo de belo a ser colhido. Depende muito de nossa disposição. As cores ganham uma energia jamais vista. Delicadas e intensas, as coisas se revestem de uma vitalidade inusitada. Tudo que parece grosseiro, medíocre, destituído de beleza, adquire uma nova sensibilidade. O olhar, agora atento e interior, transformará tudo. Dará a todas as coisas o complemento e a essência de beleza que faltava. E assim, a vida será verdadeiramente agradável aos nossos sentidos, agora enriquecidos. 

                        Em outra oportunidade, escutei uma historia que, como a anterior, definiu-se como profunda lição de vida. Um mestre de Zen Budismo estava reunido com um de seus discípulos na sala de chá. O aluno perguntava, insistentemente, o que era Zen. O professor, silencioso, apanhou o bule de chá, cercado de todo ritual que consiste aquela atitude para o oriental. E, com a alma ali presente, serviu o afoito rapaz, na quantia exata que a tradição recomendava. Voltou com o bule e colocou sobre a mesa com enorme suavidade. Completado o ato, sentou-se qual houvesse respondido à pergunta tão insistentemente efetuada.

                        O discípulo continuou perguntando. O mestre guardou-se em seu silêncio de jade. Zen é perfeccionismo. Fazer o que tem que ser feito com o máximo de perfeição que se é capaz. Não importa o que. Varrer uma sala, pôr exemplo. É uma realização em si, varrê-la corretamente. Tudo tem um significado em si. Tudo deve ser feito, criado ou produzido com a alma toda envolvida no ato. É preciso dar o máximo de nós no que realizamos.

                        Este é o segredo de encontrar motivação de viver. Não existe uma motivação em especial, viver em si é o motivo. Todo ato, todo pensamento trás em si significado de existência daquele instante crucial. O ontem já passou, o amanhã acontecerá, com ou sem cada um de nós. O que existe de verdade é o agora, vibrante de oportunidades. Não é ainda realização. É satisfação. Há uma satisfação pessoal em fazer bem feito, e nós precisamos dessas satisfações. São elas que preenchem nossas vidas de significado.

                        Tudo esta em nossas mãos. É preciso apenas estar atento ao que nos cerca e buscar fazer tudo completamente envolvidos no que fazemos para que realizemos nossas existências.

                                                **

Luiz Mendes

13/06/2013.

                        

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