Guga Dias vai de moto de São Vicente a Machu Picchu com diário atualizado pela internet
Com cerca de 18 mil km de viagens de moto registrados no seu site Diário de Motocicleta, Guga Dias já é um estradeiro experiente. Mas no próximo dia 31 de julho, ao lado de sua mulher Elda Silveira, ele fará sua mais longa viagem pelas estradas da América Latina, percorrendo 14 mil km entre ida e volta passando pelos estados de São Paulo e do Paraná antes de cruzar as fronteiras para enfrentar as estradas do Paraguai, da Bolívia e do Peru com destino às altitudes da cidade histórica de Cuzco. Em 52 dias, o motociclista espera completar o místico e folclórico Caminho do Peabiru, uma lendária estrada construída por nativos que tornou-se a principal via de expansão do Império Inca a mais de mil anos atrás.
Na volta para casa, Guga chega a tempo de participar do Salão Duas Rodas, maior evento voltado às motocicletas no Brasil, que patrocina a viagem de Guga e acontece em São Paulo entre os dias 4 e 9 de outubro. A organização do evento hospedará o site que recebrá o diário de viagem escrito pelo motociclista, no endereço diario.salaoduasrodas.com.br. Os textos do diário serão nos mesmos moldes dos roteiros de viagens existentes no seu site, já muito conhecido entre os entusiastas do "mototurismo", apresentando dicas de estradas, hospedagem, comida e passeios para quem quiser repetir seus roteiros.
Às vésperas da longa viagem de quase dois meses, Guga Dias conversou com o site da Trip e contou um pouco mais sobre a viagem, o misterioso Caminho do Peabiru e sobre o Diário de Motocicleta, motivo de muito orgulho para o rodado viajante: "Por conta do site eu revigorei todo meu ciclo de amizades. No meio motociclístico, a irmandade e a amizade são coisas muito fortes. A gente sempre tem um feedback muito bacana dos nossos leitores. Alguns até mencionam que foram a um hotel que eu indiquei, contaram que viram no site e acabaram ganhando descontos. Isso tudo sem eu fazer nenhum acordo com nenhum hotel."
A Velha Montanha
Machu Picchu é a maior e mais bem conservada cidade da civilização Inca que sobreviveu às invasões da Conquista Espanhola no século XVI. Construída em 1450, a cidade foi abandonada 120 anos depois com a chegada dos espanhóis e acabou perdida da civilização ocidental até o início do século XX, quando o historiador americano Hiram Bingham visitou o local e chamou a atenção do mundo para essa pérola da arquitetura do auge imperial do imponente Império Inca. O caminho até a cidade, no coração dos Andes, é longo e sinuoso. Mas isso não assusta Guga, que sonhou durante anos com o dia em que poderia ver o local com seus próprios olhos.
"Eu aprendi a andar de moto com 13 anos de idade. Era uma Yamaha TT, a antiga Tina Turner. Fazia uma fumaça desgraçada... Foi amor à primeira vista. Logo depois já queria montar uma moto pra mim. Mas foi de uns seis anos pra cá que eu cai de cabeça mesmo no motociclismo, depois do fim do meu primeiro casamento. E desde moleque eu sonhava em conhecer Machu Picchu, mas nunca nem tinha pensado em ir até lá de moto. Aí quando surgiu o contato do Salão das Duas Rodas, eu sugeri essa viagem e eles aceitaram. Foi um sonho realizado."
"Vamos serpentear os estados de São Paulo e do Paraná antes de cruzarmos para o Paraguai. De lá, a gente se dirige até os Andes e cruza a Bolívia pelas montanhas, seguindo bem pela cordilheira até chegar na região de Machu Picchu. Depois a gente desce das montanhas até a costa do Pacífico, na região das Linhas de Nazca. Até Cuzco, pelo nosso caminho, vai dar uns 5.800 km. No total, entre subida e descida, vai dar quase 14 mil km."
O caminho
Incontáveis povos e nações de nativos da América do Sul construiram por anos, em meio às montanhas e florestas do continente, um caminho que acabou tornando-se a espinha dorsal da expansão Inca rumo ao sul. Chamado de Peabiru (caminho de grama amassada, em tupi), a estrada chegou a extender-se por mais de três mil km de comprimento no auge da civilização Inca. O caminho era confortável, com um metro e quarenta de largura, 40 centímetros de profundidade e totalmente coberto de grama batida, muito densa, que impedia que a folhagem crescesse de forma desordenada e não permitia que nenhuma semente brotasse em seu solo, protegendo assim a estrada das ações do tempo.
Conhecido pelo povo brasileiro, paraguaio e principalmente do peruano, o caminho foi bem real até a chegada dos povos brancos no início do século XVI. Sua existência, porém, desencadeou uma série de outras lendas paralelas que sugeriam uma imensa teia de caminhos, alguns até subterrâneos, que ligariam Machu Picchu à toda a América Latina. Guga demonstrou um grande conhecimento sobre os dados da estrada, fruto de uma pesquisa séria sobre o assunto.
"Depois de algum tempo pesquisando, consegui chegar em informações bem sólidas sobre o Peabiru. Os primeiros relatos da construção desse caminho datam de quando o homem atravessou da ásia para a América na última Era Glacial, há 20 mil anos atrás. Até que por volta do ano 200 A.C. começou a se estabelecer uma razoável malha viária que foi construída aos poucos por diversas tribos da América do Sul, especialmente na região onde hoje é a Colômbia, Peru, Chile e o Equador. No ano 100 A.C., os Chavins já tinham se estabelecido como o primeiro império da região, em um molde que foi aproveitado pelos Incas quase mil anos depois do surgimento desse povo."
"Os Chavins continuaram abrindo os caminhos deixados pelas outras tribos, chegando até Potosi, na Bolívia, onde podiam explorar prata e outros minérios", continuou animado o motociclista. "800 anos depois, o Império Inca começava a crescer e se aproveitou desse caminho dos Chavins e o expandiu além do Paraguai, chegando a encontrar com os Guaranis. Os Incas, então, aproveitaram as picadas na mata criadas pelos próprios Guaranis e foram capazes de chegar até a costa do Atlântico, em território onde hoje está o Brasil."
Diários
Com quase quatro anos no ar, o Diário de Motocicleta de Guga já vai passar dos 30 mil km de rodagem depois dessa longa viagem, isso tudo sem contar os textos de colaboradores que o site também compila. São mais de seis mil pessoas cadastradas no site, da qual uma boa parte participa ativamente comentando e refazendo os roteiros apresentados no projeto. Com o apoio do Salão das Duas Rodas, o motociclista pretende ampliar a divulgação do site e envolver ainda mais gente na produção desses roteiros voltados para o mototurismo.
"A principal função do site é servir como um guia turístico, especialmente para o pessoal que curte viajar de moto, mas não só para eles. Nossa previsão é continuar com esse trabalho, se tudo der certo, com muito mais visibilidade. A gente vai continuar publicando matérias todos os dias, mesmo em viagens longas, para as pessoas continuarem acompanhando a gente quase em tempo real."
Vai lá: www.diariodemotocicleta.com.br