A bióloga que perdeu a perna ao ser atacada por um jacaré-açu na Amazônia

Deise Nishimura, a bióloga que perdeu a perna ao ser atacada por um jacaré-açu na Amazônia, vive hoje em São Paulo. À Trip, ela falou sobre as dores e a vontade de voltar a morar em meio à natureza

Foi quando limpava um peixe na parte de fora de sua casa flutuante na reserva de Mamirauá, no Amazonas, que a pesquisadora Deise Nishimura foi atacada por um jacaré-açu de 4 metros, o maior predador da América do Sul. O animal saltou 1 metro fora da água e a mordeu. Ela sobreviveu ao ataque, mas perdeu metade da perna direita. Após o episódio (dezembro de 2009) a paulista, que viveu nove meses na reserva estudando botos-vermelhos, voltou a São Paulo. Mas tem saudades. “Queria morar numa casa na árvore.”

O que você está fazendo hoje?
Infelizmente não estudo mais botos-vermelhos, sou bióloga em uma empresa paulistana.

Já voltou à Amazônia depois?
Sim, em 2010, menos de um ano após o acidente. Voltei para a mesma reserva, à mesma casa, vi as mesmas pessoas e animais. Foi um passo importante para “fechar” aquele capítulo da vida e seguir em frente.

Como foi voltar a São Paulo?
Estou aqui desde o acidente. A família, o namorado e os amigos ajudam muito, mas, para ser sincera, não é fácil... Muitas vezes me pego parada no congestionamento, olhando pra a Lua, pensando como ela estaria mais bonita no Amazonas. Minha adaptação no Amazonas foi bem mais rápida do que minha readaptação aqui.

O acidente te deixou ressentida com a natureza?
De forma alguma! Aprendi a respeitá-la e admirá-la ainda mais.

Como é se adaptar à prótese?
Quando via outros com prótese, achava que era simplesmente colocar a prótese e sair andando. Mas é muito mais complicado que isso. Por mais avançadas que sejam as engenhocas, nunca conseguiremos chegar à perfeição do corpo humano. No começo tudo dói, dar cinco passos dá uma canseira enorme e a ansiedade para andar parece fazer todo o processo levar anos. Depois de muita fisioterapia, muitos moldes e paciência, consegui dar minha primeira volta no parque do Ibirapuera. Sei de outros usuários de prótese que correm por 24 horas, disputam maratonas, sambam. Não sei se chegarei a esse nível, mas o limite está na mente e não na perna. É só me adaptar a fazer as coisas de uma maneira diferente: dirigir com o pé esquerdo, nadar sem uma perna, jogar vôlei sentada.

Quais seus maiores sonhos?
Os mesmos de antes do acidente: fazer um curso de mergulho, um safári na África, visitar a Tailândia e morar numa casa na árvore. Nada impossível, né?

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