Definições de Escritor
Escrevo. Inauguro paisagens e invento pessoas. A partir dessas paisagens e pessoas criadas, percebo que minha dor não é de fato de amargura. É angústia por ser capaz de tão pouco diante mundo tão vasto.
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Não sou nada que o valha. Apenas escrevo. E quando escrevo sou de meus personagens. Assim fácil para onde eles quiserem me levar. Homem povoado por milhões de outros homens e mulheres, vou me deixando seduzir prazerosamente.
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Quando escuto o ressonar de meus filhos e os vejo com os rostos brilhando de suor durante o sono, entendo Adélia Prado quando ela diz: “me dá a mão, me cura de ser grande”. É maravilhoso saber escrever coisas assim!
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Ao final das contas, não podemos esquecer que toda leitura, a que cada um de nós faz, é uma interpretação. De alguma forma a leitura, acompanhando tudo o mais, desfigura e ultrapassa o real com a linguagem pessoal de quem a executa.
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A linguagem não expressa exatidão. Cada um de nós enxerga algo ligeiramente diverso dos outros. Escritor é aquele que consegue ler essas diferenças (às vezes mínima, outras assustadoras) e traduzi-las em palavras.
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O escritor tem sua capacidade de concentração focada em si. Somente centrado em si ultrapassa a forma conservadora e tradicional que todos estão habituados a enxergar o mundo e as pessoas. Em si poderá acessar infinitos detalhes para obter a expressão que melhor se aproxime do que quer dizer.
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Reconheço-me escritor porque sempre tive necessidade de explicar em detalhes, sempre precisei discutir até esgotar e jamais me conformei com resumos ou condensados. Sempre falei demais, expliquei exaustivamente e me tornei um chato para quem gosta de engolir sem mastigar.
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Luiz Mendes
20/05/2010.