A banda australiana volta ao Brasil para shows em São Paulo e no Rio de Janeiro e fala com a Trip
Rumando ao Brasil pela segunda vez, a banda australiana Cut Copy trará aos palcos de São Paulo (no Festival Moto Music on Stage) e Rio de Janeiro (na festa Nas Internas) seu disco mais recente e mais eletrônico, Free Your Mind. O álbum é praticamente um compilado de referências da dance music de várias décadas.
Quem confirma isso é Ben Browning, baixista do grupo, em entrevista exclusiva à Trip. “Usamos muito equipamento eletrônico e, de certa maneira, esse disco toca a house music de Chicago e a cena rave britânica e europeia, como um todo”, afirma o músico. A abordagem tira de vez a banda da prateleira do indie rock, embora não apresente outro lugar certo.
Pairando entre bandas como The Rapture, Metronomy e Disclosure, o Cut Copy pratica um synthpop lisérgico. Samples de percussão contrastam com marcações opacas enquanto linhas melódicas de deep house encontram fragmentos distorcidos de acid house. “Fomos influenciados por bandas como KLF, Stone Roses e The Birds.”
Trechos vocais longos, acordes sobrepostos e instrumentos tradicionais tratam de afastar o grupo do eletrônico per se. “As origens da dance music estão no soul, no R&B e no disco e esses gêneros usam ‘instrumentos reais’ para fazer música”, conta Ben. Sobre o palco, ele não se restringe ao baixo e chega a tocar outros aparelhos.
O músico também se envolve com a parte visual do espetáculo. “A gente é influenciado por cinema e artes visuais tanto quanto por música”, diz. O baixista ainda disse que o novo show tem muitas novidades em comparação à primeira vez deles por aqui, em 2010. Ele conversou com a Trip antes de uma apresentação em Vancouver, no Canadá, e brincou: “vamos guardar o melhor para o Brasil!”
Trip: Como tem sido a recepção do público quanto a esse álbum?
Ben Browning: Tem sido bem legal. Todas as canções do disco que tocamos são os destaques do setlist. É bem empolgante pra gente tocar esse disco e a resposta do público tem sido demais, não podíamos estar mais felizes. O novo álbum se transmite muito bem ao vivo.
Vocês tem essa necessidade de gravar um disco e senti-lo ao vivo? Tem muitos artistas que precisam entender as músicas ao vivo antes mesmo de gravar. É muito importante para nós que aquilo que façamos ao vivo tenha reflexos do que tentamos fazer na gravação, mas nós não ficamos restritos a isso. Sempre adicionamos coisas novas para melhorar a experiência ao vivo. A gente considera muita coisa no que fazemos ao vivo, é por isso que demoramos bastante até colocar um novo espetáculo na estrada.
Muitos artistas da música eletrônica trabalham com produção e composição quase que com os mesmos equipamentos e ideias. Vocês diferenciam muito a produção musical da composição musical? A gente não se foca só em ser músico ou produtor. Criamos uma experiência para o público, esse é nosso foco. A coisa importante para gente é curtir o que a gente está fazendo, sentir o show com o público, interagir com eles o quanto pudermos, é nisso que estamos focados.
O álbum mais recente de vocês, Free Your Mind, soa muito mais próximo à música eletrônica, em essência, se comparado ao primeiro disco. Em alguns momentos, parece que vocês estão brincando com os sintetizadores, apertando botões e girando válvulas. Vocês realmente tentaram fazer isso? Sim, acredito que sim. A gente sempre tenta uma nova abordagem a cada novo disco. A gente ficou muito mais focado na dance music dessa vez. Usamos muito equipamento eletrônico e de certa maneira esse disco toca a house music de Chicago e a cena rave britânica e europeia, como um todo. Tem linhas de piano dos anos 90, baterias eletrônicas tipo TR-909, enfim, isso foi algo legal que usamos e definitivamente estava na nossa mira.
Acredito que vocês curtem a cena de Detroit e Chicago do início da música eletrônica. Sim, exatamente. Existem muitos aspectos desse disco que tem influência dessa cena. Também estávamos a fim de entrar nessa atmosfera atmosfera psicodélica do fim dos 60 e começo dos 90. Muito disso combina com o som que tentamos fazer.
“As origens da dance music estão no soul, no R&B e no disco e esses gêneros usam ‘instrumentos reais’ para fazer música”
Vocês devem conhecer o Disclosure, duo de música eletrônica que tem feito bastante sucesso desde o ano passado. Me parece que a proposta deles é parecida com a proposta de vocês, nesse sentido de dar um novo ar à cena house de Chicago e garage de Londres. No caso do Cut Copy, você acredita que também há um toque australiano nessa proposta? Acho que o som do Disclosure está muito mais nesse lado dançante. A gente tenta trazer esses elementos para nossa música, mas a gente tem muito mais vocais e harmonias. Em tudo que fazemos tentamos adicionar sonoridades sintéticas fortes, especialmente harmonicamente, mesmo se fizermos muitos recortes com baterias eletrônicas e sequenciadores. A gente sempre tenta ter um momento de harmonias e vocais. Não sei se isso é algo mais australiano, mas provavelmente nos diferencia de outros artistas como Disclosure.
Vocês se veem como parte de uma cena, assim como foram no começo junto de bandas como Miami Horror, Empire of the Sun? Era quase um “movimento aussie”. Nós nos conhecemos, nos vemos nos bastidores de festivais e shows. A gente se sente conectado a eles dessa maneira. Mas isso acontece porque a gente toca nesses mesmos lugares. Na Austrália a gente não andava junto ou algo assim. Fomos influenciados por uma mesma cena musical e tem bastante coisa legal saindo de lá. Sinto que a gente é, também, parte de algo.
É tipo uma vizinhança que se vê de vez em quando? E pode ter essa sensação de isolamento que é viver em uma ilha como a Austrália. É, exato. Temos bandas com quem tocamos muitas vezes, como o Holy Ghosts. E a gente cresceu com a internet, então era fácil saber o que acontecia em outros lugares. Talvez o que nos conecta também é a vontade que tínhamos, quando jovens, de viajar por aí tocando. Sempre imaginamos isso. É muita sorte ter a oportunidade de viajar para tantos lugares incríveis. Agora, por exemplo, vamos para o Brasil. A Austrália é realmente uma ilha, mas, agora que já passamos por tantos lugares, o mundo não parece tão grande quanto parecia.
Você acredita que hoje em dia há uma necessidade de tocar instrumentos tidos como “verdadeiros”, como guitarra e baixo? Pergunto isso porque bandas como o Disclosure, de quem já falamos, fazem isso nos seus shows e o último álbum do Daft Punk baseia-se essencialmente nessa proposta. E os dois são bem relevantes atualmente. As origens da dance music estão no soul, R&B e disco. Esses gêneros usam instrumentos reais para fazer música. Muito da dance music é feito assim e por isso há quem goste de tocar desse jeito ao vivo. Também é especialmente porque, dessa maneira, há uma oportunidade de adicionar mais personalidade às canções. Também acho que tocar instrumentos assim, enquanto performance, é muito mais interessante para o público.
Parece algo mais orgânico? É, tem o toque pessoal. E fazemos nosso trabalho num esquema de uma música por vez. Se uma faixa precisa de guitarra, nós vamos colocá-la, vamos tocá-la.
Vocês estão planejando algo diferente para esse show em comparação ao último show de vocês aqui? Sim, fizemos bastante coisa desde então! Temos muita coisa legal também na parte visual do show com luzes e vídeos. A gente é influenciado por cinema e artes visuais tanto quanto por música.
Você se sente excitado pela música? Sim, definitivamente. Música é uma constante na minha vida, é inspirante. Eu não consigo imaginar minha vida sem isso.
Qual das músicas do Cut Copy mais excita as pessoas? Acho que todas. Do novo disco eu aponto "Meet Me in House of Love". Ela vai muito bem ao vivo e tem esse espírito: pessoas se reunindo num clube, usando ou não usando drogas, sentindo aquela experiência juntos. Isso é importante e não queremos perder isso. As pessoas tendem a ser mais isoladas por causa da internet. Elas ficam online, sem ter uma interação verdadeira. Espero que as pessoas se inspirem, em músicas assim, a estar juntas.
Vai lá: Cut Copy em São Paulo
Quando: 6 de junho, sexta, 22h
Onde: Audio Club - Av. Francisco Matarazzo, 694 - Água Branca - São Paulo/SP - (11) 2027-0777
Quanto: R$ 70 a R$ 240 (vendas)
Em São Paulo o show acontece como parte do festival Moto Music on Stage. O evento ainda terá apresentação dos brasileiros Database, The Drone Lovers e Selvagem.
Cut Copy no Rio de Janeiro
Quando: 7 de junho, sábado, 23h
Onde: Usina - Rua Sacadura Cabral, 154 - Saúde
Quanto: R$ 90 a R$ 180 (vendas)
No Rio o show acontece como parte da festa Nas Internas, que rola até o amanhecer após o término da apresentação da banda.