Quem já pisou no Teatro Municipal de São Paulo conhece bem o sorriso de Pelé e seus cuidados
Rita Lee quer voar? Chama o Pelé. Daniela Mercury pegou o microfone errado em plena homenagem ao rei Roberto Carlos? Chama o Pelé também. Há mais de três décadas Aníbal Marques, o Pelé, é cenotécnico e maquinista do Teatro Municipal. E garante que cada detalhe do cenário e das demais traquitanas do principal palco paulistano funcionem direitinho. Esse técnico-artista de 50 anos, verdadeira celebridade das coxias paulistanas, encara cada peça como uma estreia, acompanhando nervoso os passos dos artistas em cena.
A história de Rita Lee teve um final feliz, mas começou atrapalhada. A cantora deveria sobrevoar o palco mansamente, mas acabou presa em um gancho, não ia nem pra lá nem pra cá. O cenotécnico resolveu o pepino na hora. Resolveu tão bem, aliás, que a roqueira quis voar de novo – e nessa segunda vez deu tudo certo. No caso de Daniela Mercury, ele irrompeu no palco para trocar o microfone em questão de segundos.
O craque dos bastidores explica o apelido: “Nos anos 70 Pelé estava no auge, e eu, começando. Acho que me viram como uma revelação do tablado, e essa história acabou pegando. Às vezes até eu esqueço do meu próprio nome”, conta.
Paulistano de Tucuruvi, Pelé começou a trabalhar no Municipal em 1978, seguindo a tradição familiar. Seu pai trabalhou no mesmo posto que ele ocupa hoje. “Com 5 anos, meu pai já me carregava pelos teatros. Eu corria para ajudar, aprendi a martelar e pendurar pano. Mas, para chegar aqui, passei por todas as áreas, fiz iluminação, som, pintura e serralheria”, conta, orgulhoso.
Imprevistos e artimanhas
Na definição de Pelé, teatro é ação em cena, é ilusão. Para que essa fantasia ocorra, é necessária movimentação frenética, o entra e sai de cenário, telão e cortinas, atores correndo de lá para cá e o foco de luz sempre a acompanhá-los. E, para tudo isso encaixar, não basta estar preparado, já que a toda hora acontecem imprevistos no palco, seja em produções grandiosas ou mesmo nos ensaios. Afinal, craque que é craque bate um bolão até em treino.