Acredito que há uma enorme coragem em sofrer. Em ter lágrimas e chorar a dor sofrida. Não falo agora da dor de ser, essa coisa abstrata que na maioria das vezes é apenas angústia. Mas da dor mesma, na carne, da fome, do frio da sede e da miséria. A dor da tortura, dos espancamentos, da humilhação constante, do espezinhamento, daquela que dá vontade de morrer, de entrar em um buraco e desaparecer, da dor injusta, daquela causada pelos outros com seus egoísmos e maldades. Daquela mesma dor, e não nos enganemos nunca, que também somos capazes de causar. A dor que leva ao ressentimento, às revoltas, a mesma que leva a uma realização interior, que leva ao perdão, à compaixão pela dor dos outros. A nossa atitude é quem manda, porque há algo na vida e no futuro que nos espera e que só a nós cabe fazer. Todos nós fazemos falta. Somos indivíduos, em alguma coisa diferente aos demais indivíduos e eles também diferentes de nós, portanto, insubstituíveis como somos. Aquilo que vivemos ninguém poderá viver exatamente como nós, o que se transforma também nessa carga de diferença, de unicidade. Cada sofrimento é único e marca alguma coisa que não pode ser substituída nesse mundo. O sofrimento de todos não pode ser em vão. A vida não teria sentido se assim fosse. Por isso há muita coragem em sofrer.
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Luiz Mendes
23/06/2015.
