Coexistência
Nossa noção de coexistência é bastante precária. Não vai muito além de nós mesmos e dos nossos entes mais queridos. Diante qualquer situação de crise, esperamos para ver o que acontece com os outros. E só depois que devidamente informados do que aconteceu, acontece e no que vai virar é que tomamos atitudes que podem ou não implicar em soluções coletivas. Tememos consequências. E não é à toa. Nossas consequências têm detonado o mundo, nossas vidas e esperanças... Um exemplo clássico do que afirmo é quando o vizinho perde o emprego. Apenas nos preocupamos. Ficamos pendurados, em suspense, à espera como um ponto de interrogação. Mas somente quando nós também ficamos desempregados é que reclamamos por atitudes de proteção. O outro é transformado em objeto, fonte de informação do que pode ou não acontecer conosco. Não é mais uma pessoa de carne, ossos e circunstâncias. Tudo nele é informação relacionada a nós. O que acontece com ele é referência. Chega a ser apenas estatística em dado momento. Será avaliada em termos de possibilidades percentuais. Somente importa o quanto doeu nele para nos prevenir ou preparar. O outro; sua alegria e sua dor íntima, pessoal, não serão levados em consideração. Não existe em si, ou seja: não esta em pauta. Virou objeto. Exatamente por isso que Sartre afirma que ao nos aproximarmos do outro, ele nos converte em objeto.
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Luiz Mendes
03/02/2012.