Continuação: Guerra na Prisão

por Luiz Alberto Mendes

Confronto  Continuação

 

Ninguém precisou dizer nada. Caminhamos os cinco decididos para o círculo de ferro que nos aguardava. Nesse tempo de cerca de 20 metros de caminhada e breves minutos, reencontrei minha vida toda que a prisão impedia. Aceitei que fosse morrer e, paradoxalmente, vivi plenamente. Jamais a vida me fora tão possante, impactante e nunca quis tanto viver. E, estranhamente, caminhava para a morte satisfeito, vivenciando essa tremenda potencia. Thomaz ia à frente, nos motivando. De repente parou e parece que havia tido uma visão, algo extra normal, então se virou e nos disse:

_ Finjam que estão armados, como se estivesse prontos para sacar as facas para matá-los. Esses caras são "bunda-moles", estão cagando nas calças de medo, vamos correr para cima deles!

Olhei Dé ao meu lado direito, e ele emitia um sorriso estranho, assim quebrado, coisa meio de louco. O momento era insano mas dourado; quando o homem escolhe lutar para viver. O Pequeno já começava a se movimentar como quem vai se lançar em combate, como um cavalo pateando o chão. Os outros dois estavam super agitados, injetados de uma decisão radical que os impulsionava. Os demais presos se afastavam. Atravessamos o solário em passadas largas, parecia que o mundo havia parado para nos ver homens sem medo. O canto da morte e o amor pela vida, em paradoxo se soltavam no ar.

Dé, o mais novo e louco de nós, não suportou mais a tensão; deu um grito e começou a correr em direção dos nossos inimigos. Acompanhamos, assim surpresos. Seria até gozado se não fosse tão terrível: eles começaram a correr para todos os lados de facas nas mãos e nós atrás deles sem nada nas mãos. O guarda estava trancando o pátio quando foi atropelado por mais de uma dezena de presos que desciam apavorados como se todos demônios estivessem atrás deles. Alcançamos dois deles. Quando começamos a bater, nos ameaçaram com uma faca. Dé foi furado mas passou com um caminhão em cima do esfaqueador. Os dois ficaram esticados no chão ensanguentados. Foram socorridos, mas não soubemos o que aconteceu com eles; nunca mais os vimos ou soubemos deles.

No final doze presos foram para as celas de seguro de vida e nós éramos o novo poder que se levantava. Era a revolta dos humildes. Não conseguiríamos mais conviver com aqueles companheiros de cela que nos deixaram em falta. Eles mesmos tomaram a iniciativa de se mudarem de xadrez no dia seguinte. Mas aquilo mudou cada um de nós. Olhávamos uns aos outros como irmãos e nos sentíamos muito bem em ter vencido. Sabíamos que a nossa vitória não fora contra os companheiros, e sim contra o nosso medo, para que não se transforma-se em pavor. Dali para a frente nós sabíamos o segredo da coragem e o colocaríamos em prática.

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Luiz Mendes

19/08/2013.

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